sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Adeu

Quando desci do carro, eu vi o ano de 2007 na minha frente. Não só vi, como resolvi abrir a porta e entrar. Era necessário voltar. Era necessário ver com meus próprios olhos o meu passado abandonado. E quando você volta para o passado, ou você reclama ou você agradece. E adivinha o que eu fiz? Chorei sem derramar sequer uma lágrima. Unicamente chorei com minha alma. Porque quando você olha para o relógio e reza para as horas voarem, isso é um assalto à mão armada a sua própria vida. E foi isso que fiz sem ao menos perceber, rezei para as horas voarem e agradeci. Agradeci pelo presente que é tão diferente de meu passado abandonado. Percebi que tenho em minhas mãos o pote de ouro do fim do arco-íris. “Vou me benzer, vou agradecer, vou rezar”.

Complexo? Não! Simples. O amor é simples, sabia? E por ser tão simples, às vezes eu duvido. “Não pense meu amor, não há tempo, não há o que pensar, hoje em dia, eu vivo em delírio por ti e nem sei disfarçar”.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

"y este cuento se ha acabado"

No último segundo, me lavei de lavanda. Procurei o sal, mas não encontrei. Me restou o cheiro, da lavanda. E do cheiro meu cérebro bebeu a tal da lavanda. Não sobrou nada mais que um perdão. A tecla stop apertada. E do vazio, a lavanda preencheu o coração.

A ponto de explosão, com o choro engolido até o talo, ele me fala: aindaaaaa? E eu retruco: mas.... e ele grita: não existe o mas! E ai, eu comecei a correr, da vida, de mim e da raiva que habitava meu corpo e por incrível que pareça, habitava os meus sonhos também.

Só que quando você corre de alguém, esse alguém nunca fica parado, e pode parecer estranho, mas quando você corre de algo, esse algo também nunca fica parado. E lá ia eu, correndo na frente da minha vida, de mim mesma e da minha fofa e admirável raiva.

Digamos que no final, todo mundo já deve prever, que cheguei em segundo lugar, empatada de mim mesma. A minha vida me passou nos últimos metros da chegada e a minha raiva torceu o pé logo no começo do primeiro quilômetro. Conclusão da história? Abandonei a minha raiva bem perto da Bienal e voltei para casa mais leve.

Tudo seria lindo, se ela não fosse chata pra cacete e não insistisse em tocar o interfone, e me convencesse a descer e a escutar mais um pouco.

O role sempre te salva nessas horas. Deixei a minha tristeza escutando a minha raiva, aceitei o convite do Rolê e fui trocar idéia com ele. No vácuo do pensamento, o açúcar do suco. E se existe o açúçar, isso quer dizer que o amargo não existe mais, deve ter ficado ali junto com a minha raiva.

Se tenho muito pra dizer? Tinha. Não tenho mais. E no último segundo, me lavei de lavanda...
Procurei o sal, mas não encontrei....
me restou o cheiro, da lavanda.
E do cheiro meu cérebro bebeu a tal da lavanda.
Não sobrou nada mais que um perdão.
A tecla stop apertada.
E do vazio,
a lavanda preencheu o meu coração.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Linha

Só me importa o é,
o foi ja foi,
e o será, quem vai saber?
Você me olhou,
eu vi,
foi de um jeito nunca olhado...até então.
Pronunciou a frase que não quis falar,
disse com os olhos,
calados.

Não sei porque não disse.
Eu sei que era uma certeza.
boa ou ruim?
será, diria eu.
Meus olhos entenderam,
meu coração não.
parou pela novidade.
o novo.
de novo
Quem era você?

um teste!
Mais um...
Os olhos quase fizeram a boca se mexer,
quase fizeram ela dizer,
mas se perderam no sorriso,
inocente.
puro.

E se não for puro,
não me avise.
Continue então, tentando me dizer pelos olhos.
Eles entendem,
o coração não.

Mari 16/10/09

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Janela do Tango

CENA I


A menina está deitada de barriga pra baixo sob sua cama. Folheia a revista nova que acabou de comprar. Do lado esquerdo, a janela bem grande, está escancarada. Por ela, a menina consegue escutar um tango, puro, daqueles que tocam a alma. Ela levanta, dá as mãos para seu par invisível, caminha até o centro do quarto e juntos começam a dançar.

MENINA SUSSURA NOS OUVIDOS DO PAR INVISÍVEL:
- Apesar de sempre soar pela minha janela um jazz verdadeiro, daqueles que tocam o coração, o som que soa hoje é tango... um tango puro, daqueles que tocam a alma. A janela sempre traz a novidade: o presente. E por isso e por outros motivos, ela fica assim: aberta. O contato com o universo é essencial.

Quando termina a música, eles se despedem. Ela senta silenciosamente em sua cama e o olha. Sorri como de costume. Levanta da cama ao ouvir outro tango começar, estende a mão para o par invisível e começam a dançar:

MENINA SUSSURA NOS OUVIDOS DO PAR INVISÍVEL:
- Outro dia, a porta do quarto abriu sozinha. A porta sempre traz o que não importa: o passado. E por isso e por outros motivos, ela fica assim: fechada. Então, eu a fechei bruscamente com todo o peso do meu corpo, e depois tranquei com a chave. Pensei até em jogá-la pela janela, mas lembrei do futuro, e resolvi jogá-la na privada.

CENA IV


Ela anda de bike pela ciclovia da República do Líbano acompanhada de sua melhor amiga. Juntas já percorreram 10 km pela cidade de São Paulo naquela manhã de domingo. A menina então, para, desce da bike, olha para amiga.

MENINA:
- Alguma noite perdida por ai na Primavera, estava eu deitada sob o chão de uma das ruazinhas de Moema. O silêncio era nítido, a visão tomava conta de todas as minhas palavras... das brechas das folhas das árvores: a lua! Bem cheia, bem amarelada, com coelho estampado de ponta cabeça.

Ela recolhe a bike da ciclovia, apóia no gramado, coloca as mãos na cabeça e olha para amiga.


MENINA:
- A foto comprova o momento. E quem comprova o meu sentimento??? Quem??

Ela anda de um lado para outro com um tom de desespero. Olha para amiga com os olhos cheios de lágrimas.

MENINA:
- Os olhos!!! Que não eram meus.... mas sugavam dos meus..... a prova.


CENA XII

Deitada sob o chão de uma das ruazinhas de Moema, acompanhada do silêncio e da Lua, a menina levanta e encara mais uma vez a imagem que sempre se repete. Ilusão de ótica: a sombra da árvore remete a um graffiti no muro. A menina, chocada mais uma vez com suas verdades recém descobertas, caminha para frente e para.

MENINA:
Se muro existe, quem flutua é o graffiti! E faz sentido se agora existe muito mais arte que antes?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

T T T (Turbo Trio no Tapas)

"Fronteiras e formas das coisas não prevalecem, e sim a essência das coisas. Nossa vida é um reflexo das nossas escolhas. Concentre-se na sua essência. Todo o ser humano tem o dever de evoluir, todo o ser humano tem o direito de se sacudir... Gosto não se discute, não gostou, aperta o mute, se não apertou, agora escute. Ta sobrando muita coisa e tá faltando atitude."

O show de ontem foi mais ou menos assim, muita coisa para escutar, pra guardar pra depois refletir. O Buda no palco. Quem sabe, sabe. O show ontem foi sensacional. Talvez um dos melhores que eu já vi do Turbo Trio. E por alguns motivos, claro. Primeiro porque estávamos bem na frente com um puta espaço para dançar. Segundo porque aquilo eu chamo de dança. As pessoas não eram enlatadas, graças a Deus. Terceiro porque depois o Curumim subiu no palco e mesclou com Turbo Trio. Quarto porque depois o Buda mostrou suas habilidades na pista. Quinto porque o Curumim começou a tocar o CD Enxugando o Gelo. Sexto porque o B Negão subiu novamente. Sétimo porque a festa não teve fim.

"Pra seguir tranqüilo na sua missão, pra se manter tranqüilo em qualquer situação, seja em casa, no trabalho, no trânsito, no mundo em que se criam as portas da destruição, se oriente sempre pela intuição, nossa arma é se a mira é certeira, nesse mundão onde a imagem é a verdade, quem enxerga mais, segue em frente, vai, sem neurose."

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Una extraña mañana en jardin

Se alguém me perguntasse o causador disso tudo eu teria apenas uma resposta: o jardim. Mais uma vez amanheceu, aquele céu cinza como se o mundo estivesse preste ao fim, nos deu bom dia. Confesso que fiquei pasma, porque simplesmente repetiu o amanhecer do primeiro episodio. Os sobreviventes não eram os mesmos, acredito que apenas dois ou três estavam vendo tudo de novo.

Uma estranha manhã no jardim foi o codinome usado para mais uma grande festa no deserto. Só algumas pessoas sabiam que tudo aquilo ficaria pequeno demais. Teve gente que aproveitou, teve gente que escapou. As pistoleras dominaram a pista “Pocos heridos, muchos muertos”. El justiciero fez sucesso, mas como de costume, sumiu como o Mestre dos Magos. Urso não dominou a pista, Zraide tentou mostrar porque veio, Zezão dominou o som. Ziwinsky atirou no alvo, Zitao deixou sua marca, Zoroastra mostrou o que um perfume é capaz de fazer, Zaria bailou su mejor flamenco para todos. Diz a lenda, que nas minhas festinhas de aniversário, os cupidos estão ali, bem pertinho flechando as pessoas. Dali, alguns foram direto para a igreja, outros já moram juntos, outros namoram e assim vai. Quem estava acompanhado, se deu bem. Zrá. E numa noite tão querida, o sorriso ficou maior quando vi a minha madrinha junto com papi. É, o amor estava por todos os cantos. Ainda não lembro de muita coisa, mas do que lembro, adorei. Obrigada Vitão, Mariano e Fezão por tomarem conta do som, Like por ter emprestado o som e obrigada a todos por terem dado o ar da graça no jardim!