domingo, 14 de agosto de 2011

Embora Parte I



Correu pelas escadas, passou pelo portão e desceu a rua, sozinha, embaixo de chuva. Não sabia que esse seria um caminho sem volta, e se soubesse, jamais teria descido. Não tinha mais volta. Seu cabelo molhado, seu tênis encharcado e sua mente cheia de pensamentos, ideias e revoluções.


Precisava andar muito mais,

precisava se molhar muito mais,

precisava sentar e chorar,

porque seu choro estava entalado,

porque seu choro doía.


Da rua, ela via o que já tinha deixado para trás.

Uma vida inteira, cheia de história, de momentos, de sentimentos.

Muitos amigos, pessoas queridas, tempos que ficariam apenas na memória.

Bastou.

A vida tinha lhe bastado.

Tudo fez sentido, tudo se encaixou perfeitamente, se acomodou, deitou no sofá, assistiu TV e gostou.


A vida passava pela janela e isso não incomodova.

A trilha sonora era a mesma e isso também não incomodava.

Aprendeu então, a apenas falar da vida dos outros, porque a sua já não era mais realidade, já tinha até perdido os sonhos, então se tornou a melhor crítica dos sonhos dos outros.

A vida por sinal, era a vida dos outros e assim acreditou que tinha chegado no topo do conhecimento. Esqueceu das novidades e acreditou.


Porque a vida é feita daquilo que você acredita.


No que você acredita?


Ela acreditou e desacreditou. Lembrou das novidades. Ficou sem ar. Abriu a janela, sentiu a vida passando pela janela e isso incomodou. E então, sem mais, tudo incomodou.


Levantou do sofá, abriu a porta e foi embora para nunca mais voltar.

Um comentário:

Sou dos Poetas disse...

Gostei do modo como você se faz das palavras!