quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

No final da noite

No final da noite, eu tinha certeza. Era necessário voltar pra casa. Era necessário retomar a minha vida, meus sonhos, meus projetos e deixar pra trás o amor que nunca existiu. Afinal, essa história que podemos juntos inventar o amor é somente e puramente papo. Eu estava decidida. Eu, minha mente e meu corpo. Então só restava mesmo, levantar da cama, me trocar em silêncio, juntar minhas coisas, abrir a porta e descer as escadas. No hall do prédio ainda era preciso uns malabares para o porteiro não me ver e não me denunciar. O plano estava escrito e ele era perfeito.


No final da noite e no começo do meu plano, ele acordou. Ele acordou e despertou. E no despertar, não entendeu o plano que já tinha acabado. E óbviamente, ele deixou de ser perfeito, porque vieram os gritos, os objetos jogados no chão, os choros, os pedidos, as promessas. E o que ele não entendeu foi que ao se despertar, virou personagem principal do plano. Todas as atitudes eram dele e não minhas. Porque eu me calei e assisti o espetáculo nomeado: Vamos ficar juntos.


No final da noite e no meio do meu plano, ele chorou. Ele chorou e eu não. Eu abri a porta segurando as minhas coisas e ele não a fechou, desceu atrás de mim todos os degraus daquela maldita escada e no hall do prédio não foi preciso uns malabares, mas uma corrida com gingada para desviar do porteiro e dele. Do outro lado da rua, assisti mais um espetáculo nomeado: Chama a polícia, ela está fugindo.


No final da noite e no fim do meu plano, eu cheguei em casa, sem polícia, sem ele, sem o porteiro e com uma certeza: Era necessário voltar pra casa. Era necessário retomar a minha vida, meus sonhos, meus projetos e deixar pra trás o amor que nunca existiu. Porque - sempre existe um porque - eu estou pronta para o amor que nasceu no fim do ano passado.

Um comentário:

el disse...

é mari,

amores impossíveis são inventados
todos os dias.
e os inventados soam impossíveis
todas as vezes.

- mas é o único que dançamos.
sempre.