sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Histórias guardadas

Não mude! Muito menos tente disfarçar! Depois vão te cobrar e fatalmente você não vai gostar. Mesmo que não esteja tudo muito bem, não tente lavar suas atitudes num tanque de roupa suja. Acredite: a sujeira não descerá ralo abaixo.

Enquanto isso, te espero ali, sentada na varanda com a represa ao fundo. Você abre a porta, deixa as chaves no velho vaso sem flor, caminha lentamente até o bar — três pedras de gelo numa dose dupla de whisky — e vai até a varanda. Ignora-me, exatamente do jeito que eu gosto, e aprecia por horas a vista da represa enquanto o gelo derrete no copo. Acende um cigarro, joga a fumaça no ar e me olha! Depois anda lentamente até a mim, segura em meu rosto e o posiciona em direção aos seus olhos... Pausa.

Depois de finalmente assistir Vicky Cristina Barcelona, percebi que existem muitas histórias guardadas em minha mente sobre Barcelona. E isso, veio à tona. Não! Não montarei um outro blog só para falar disso; quem sabe um dia, um livro. Enquanto ele não chega, escrevo a pedido de amigos.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Antes que esqueça:

Talvez eu tenha sido a única que vi o teu olhar naquela madrugada.

Antes que amanheça:

Preciso te dizer que estava tão triste...

Você sentada naquele
murinho no meio da
espraiada,
olhando para o
nada...


A espera de alguém...



Alguém que se perdeu diante de fatos não concretos.

Por que se perdem?




Venha!!! Pegue em minhas mãos...

Vamos correr pelas ruas do centro de São Paulo....

Vamos
procurar
o que não
podemos mais
achar.

Mari 30/06/04

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

As cartas na mesa

A chuva é anunciada pelo seu barulho. Sem tristeza, as gotas grossas começam a cair. Sem medo, a gente comemora na piscina com copos de cervejas, que adicionado pingos de chuva torna-se um sabor indescritível. No fundo o som no talo. Na frente um escorregador carregado de energias passageiras. Sim, é nessas horas você vê quem está realmente do seu lado. Porque aquele que deita ao seu lado para assistir um filme e assim se proteger da chuva, não sabe o que faz. Talvez seria o medo. Mas, só talvez. Às vezes, é falta de atitude mesmo. O dia então, mais uma vez, torna-se único. Assim como quase todos, mas cada um com sua proporção. O que vai ser de amanhã? Não sei. Já está um pouco longe para tentar fazer um chute. E mesmo assim, numa mesa com quatro pessoas, você grita em meus ouvidos: truco!!! Mas grita truco confiante demais. Talvez o seu parceiro tenha passado um sinal errado. Talvez. Ousadia sem planos. Caiu na rede. Virou peixe morto. Grito seis sem olhar para minha parceira. Aí, teriam vários motivos. Podemos citar um só: confiança. Sabe o que faz. Ela enrola, coça a cabeça, faz cara de mau e grita: nove!! Poderia eu, com toda confiança da parceira, ser um pouco arrogante e gritar: doze!! Mas a sutileza de dizer: desce; é maior. O parceiro dela, sem nada nas mangas, abaixa o jogo, que de jogo, não tem nada. Minha parceira, com sorriso estampado no rosto mostra apenas o três; a outra gargalhando, mostra o copas. Eu, sem sorrir, abaixo o zap junto com espadas. Mas você não entende nada sobre truco, né? Esqueci! Poderia então exemplificar com Poker, mas você também não entende nada de Poker. Assim fica um pouco difícil, porque na verdade, um jogo de cartas pode muito bem te ensinar a viver. Sendo assim, creio que seria melhor você começar por algo mais fácil: experimente a cerveja com gotas de chuva, vai por mim, o sabor é indescritível.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

M-A-M

Na dúvida entrei. Eram contemporâneas, mas tocava Oxford Comma de Vampire Weekend. As paredes eram todas brancas, às vezes eram pretas. Diante de telas que eu também saberia pintar, uma delas me chamou mais atenção, são essas que tiram minha respiração e sem fôlego olhei, para o lado. Encontrei os olhos que não eram pinturas. E esses olhos olhavam os meus. Me sugavam. Eu me encontrava ali no meio de telas contemporâneas ao som de Vampire Weekend, sem ar e sem meus olhos. É. Os olhos já não me pertenciam. Mesmo assim, quase sem jeito e sem movimento, consegui desviar o olhar e parar na frente de outra tela que devolveu meu ar. Essa até minha sobrinha pintaria. E pelo corredor fui seguindo as telas que não estavam nas paredes, estavam penduradas por fios, inexistentes. Insignificantes. As telas não se mexiam, nem com o vento, apesar de não existir janelas. Entre uma tela e outra, eu esperava o vácuo, mas não tinha vácuo, tinham os olhos, os mesmos, na mesma proporção. Eu de novo, sem meus olhos, roubados em instantes. Desvio, disfarço, viro, respiro. Procuro e encontro. Não os olhos, mas a tela que minha nonna com 85 anos também pintaria. O ar de volta. Que daqui a pouco some. E me deixa. S-o-z-i-n-h-a diante de telas c-o-n-t-e-m-p-o-r-â-n-e-a-s. A única parede vermelha do museu carrega o fim da exposição. Nada mais contemporâneo do que um espelho sob espelho pendurado ao lado do sino de vidro que não toca, porque se toca, quebra. O espelho sob o espelho na parede vermelha guarda um retrato: as minhas duas mãos ao lado de outras duas mãos. Truque, de mágica. Olhos nas mãos, mãos nos olhos, os mesmo olhos e eu sem fôlego.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A 5 minutos do suicídio

O olhar de cima revela um céu inteiramente aberto. Sol sem nenhuma nuvem. Um frio que não é aconselhável sair de casa. A cidade está vazia. Nem as flores estão nos canteiros. Não há vida. Ou melhor, há por enquanto. O olhar na horizontal mostra: cinco jovens enfileirados em cima da ponte Golden Gate, São Francisco nos Estados Unidos. Os cincos jovens são brasileiros e estão ali por um mesmo motivo: a vida virou inimiga. E o orgulho com a falta de amor próprio os cegou. Receberam todos os sinais previsíveis. Disseram que entenderam, mas foi a atitude que não tiveram. Empurraram com a barriga durante alguns meses, sem solução, sem amigos, sem ninguém realmente verdadeiro ao lado para brigar, brigaram com a vida. Tipo Clube da Luta. A cada soco na vida, um soco de volta. A cada soco no estômago, outro de volta. Não há mais volta. O futuro também já é previsível: o pulo, a queda, o mar. Eles se olham, apertam as mãos e olham novamente para o futuro. Eles se conhecem, todos. Tempos atrás se cruzaram na cidade de São Paulo. Até cerveja tomaram numa mesa de um bar. Três homens e duas mulheres desistiram de amar qualquer coisa que pudesse passar por eles. Confundiram o amor com obsessão. I-n-i-m-i-g-o-s da própria vida. Tic. Tac. Os cinco pulam. A queda demora quatro segundos. Os s-e-g-u-n-d-o-s viram minutos. Diante da mente: um filme. E pra cada filme, um final diferente. O filme acaba, agora eles estão cara a cara com a vida. O choro, consecutivo e sem fôlego. O arrependimento de serem f-r-a-c-o-s. O egoísmo que agora já virou mais que um problema para a família. Não há mais o que se possa fazer. A decisão é de cada um. Foi. Game Over. Novamente o olhar de cima: cinco corpos bóiam no mar gelado de São Francisco.