terça-feira, 30 de outubro de 2007

Geopolítica: Energia, Meio Ambiente e Tecnologia

Por Leandro Duarte Madureira

Pensando em uma escala global, parece não haver discordâncias na relação da questão ambiental com os recursos energéticos e tecnológicos em um mundo moderno que estabelece, cada vez mais, relações intrínsecas entre diferentes temas.

E é baseado nessa crença que essa nossa reflexão vai se pautar; buscando compreender um pouco mais da geopolítica do mundo atual.

O Oriente Médio é hoje a região do mundo com maior número de conflitos e pelo visto essa realidade parece não estar no fim. Recentemente, o governo Bush declarou que caso o Irã não suspender seu programa de enriquecimento de urânio poderá ocorrer a III Guerra Mundial.


Observe o mapa abaixo:

Mapa: Geopolítica do Oriente Médio

Além da localização do Oriente Médio, vemos os conflitos atuais e áreas potencialmente conflituosas.

Vale considerar que a concentração de conflitos no Golfo Pérsico e em Israel se destaca por motivos diferentes e relacionados, que não vamos explorar nesse texto.

As estatísticas mostram que o Golfo Pérsico abriga cerca de 60% do petróleo mundial e, esse dado por si só, já torna a região como sendo de grande interesse das grandes potências mundiais, principalmente do Império norte-americano.

O cartograma abaixo mostra a proximidade existente entre os pontos de ataque dos EUA na ocupação do Iraque (um dos países do Oriente Médio), os poços de petróleo, as regiões controladas por instituições norte-americanas junto com a proibição de Síria e Irã de usar seu espaço aéreo.


Fica claro aqui que a justificativa de levar a “democracia” ao Iraque cai por terra. Seria muita inocência acreditar que a maior potência mundial ocuparia uma região com tanto petróleo apenas para levar a “democracia”.

Será que o Iraque hoje vive uma realidade melhor que na época de Saddam Hussein?

O petróleo é um combustível fóssil, não renovável e que já teve o seu fim decretado inúmeras vezes... Agora se fala em um novo potencial, o Golfo da Guiné, próximo a Libéria e Nigéria, na África.
Mares territoriais dos países do Golfo da Guiné

Mesmo assim a quantidade descoberta parece não ser suficiente para gerar energia a tantas máquinas. Só esse ano a China produziu 8.000.000 de carros, se equiparando com os números de EUA e Japão. O que fica claro é que o ritmo de prospecção de petróleo não acompanha o ritmo de produção e inovação tecnológica das potências mundiais e a transição dessa matriz energética já está sendo planejada.

Bobeira é achar que ficaremos sem energia!

Engraçado que até o Brasil ganhou destaque com esse papo todo, de repente fomos reconhecidos como sendo um país com total condição de produzir Etanol a partir da cana-de-açúcar.

Em um primeiro acordo Brasil-EUA fica estabelecido que 2% do Etanol brasileiro substituiria a gasolina de ambos os países (o objetivo é chegar aos 15%).

Temos que considerar que para o objetivo ser alcançado será usado cerca de 20 milhões de hectares. Ocuparemos a Amazônia com a cana-de-acúcar para o Etanol.


Parece que com o mesmo autoritarismo que os EUA justificaram a sua ocupação no Iraque, sendo contra o Conselho de Segurança da ONU, o Brasil pode justificar a devastação da Amazônia para o plantio de cana-de-açúcar, gerando Etanol e diminuindo o Aquecimento Global. Não seria lindo?

O fato é que o Etanol não supre as necessidades mundiais em curto prazo e para superar em longo prazo a devastação ambiental seria catastrófica, em tempos de AQUECIMENTO GLOBAL.

Qual seria o combustível capaz de substituir o PETRÓLEO e dar apoio ao ETANOL em curto e longo prazo?

Parece que a resposta é o URÂNIO!


Atualmente os maiores produtores de URÂNIO são: Canadá e Austrália, mas o Cazaquistão já tem um projeto de assumir a liderança da produção de URÂNIO até 2010. (leia o link)

Esse cenário indica que: o Golfo da Guiné, a Amazônia no Brasil e o Cazaquistão assumem papéis fundamentais na corrida energética. Sai na frente o Cazaquistão, pois tem a fonte energética do futuro e com isso se torna o lugar mais observado do planeta.

Um conflito no Cazaquistão parece ser só uma questão de tempo. A maioria dos países que se localizam em suas proximidades já sofreu ataques norte-americanos e foram dominados em nome da “democracia”, como: Kuait, Iraque, Afeganistão, Paquistão. (Não esqueça das recentes ameaças do governo Bush ao Irã).

Sem dúvidas, parece que os diferentes temas hoje estão cada vez mais relacionados, criando uma rede de conexões e desafiando os diferentes sujeitos a desvendá-los.


* Leandro Duarte Madureira é formado em Geografia na Pontifícia Universidade Catolica - SP e professor do Colégio Friburgo.

Um comentário:

Anônimo disse...

A "REALPOLITIK" E O ALINHAMENTO FRANÇA-ANGOLA NO GOLFO DA GUINÉ.

MARTINHO JÚNIOR

A visita do Chefe de Estado Francês Nicolas Sarkozy a Angola, em vésperas do Dia de África, é um acento tónico nas alterações que se estão a produzir nos relacionamentos da França para com África, muito em particular na direcção do Golfo da Guiné.
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No “offshore” dessa região nevrálgica sob o ponto de vista da exploração e exportação de petróleo para a África Sub Sahariana, a França manteve durante demasiado tempo uma visão geo estratégica baseada no conceito conservador e obsoleto de “pré carré”, opção de certo modo desconectada da linha seguida pelos interesses concentrados na aristocracia financeira mundial, eminentemente anglo-saxónica.

Como prova disso estão os acordos de natureza militar e marítima que procurou distender, do Senegal ao Gabão, apesar das contrariedades invulgares da Costa do Marfim, na sequência de outras dificuldades anteriores, a partir da década de 90, dentro do continente (a título de exemplo, casos do Ruanda e do Zaire – República Democrática do Congo).

A geo estratégia Norte Americana para o Golfo da Guiné, seguindo a linha dos interesses da aristocracia financeira em relação à qual a Reserva Federal se tornou acessória, que leva em especial atenção os interesses relativos à exploração do petróleo, entretanto, consolidou-se, tornando-se dominante a tal ponto que o próprio conflito na Costa do Marfim acaba por reflectir o peso da sua influência na região.

O Presidente Jacques Chirac a seu tempo, não pôde, ou não teve a arte de melhor entender a génese e o crescimento desse fenómeno político, económico e geo estratégico, a fim de melhor corresponder aos interesses da França.

A crise da multinacional ELF poderá ter muito contribuído para isso, pois a TOTAL por si só, não tinha “lobby” suficiente, determinante, (é assim que funcionam as “democracias representativas” ocidentais) nos poderes de decisão relativos à geo estratégia do petróleo em França, não tanto no que diz respeito aos relacionamentos no Norte de África, mas sobretudo para com os relacionamentos com a África Sub Sahariana – Golfo da Guiné.

As “correcções”, que levavam em linha de conta o formidável domínio dos Estados Unidos nos mares e em particular no Golfo da Guiné, no momento em que o Pentágono pôs em marcha o AFRICOM, foram iniciadas no interior do continente pelo Presidente Nicolas Sarkozy, que produziu alinhamentos consideráveis com a geo estratégia Norte Americana no eixo Kribi – Port Sudan, a meio do qual se encontra a fronteira comum Chade – República Centro Africana – Sudão, com epicentro na dolorosa fricção de Darfur.

Esse eixo, tem como “catapulta” de pressão o “mare nostrum” (sob o ponto de vista dos interesses Norte Americanos e ocidentais), do Golfo da Guiné.

Sequência dessa “conversão” geo estratégica Francesa, em termos de “realpolitik”, está a normalização com Angola, o 2º produtor de petróleo no “offshore” do Golfo da Guiné, aninhando-se os dois estados à geo estratégia Norte Americana.

Os três maiores produtores de petróleo do Golfo da Guiné, Nigéria, Angola e Guiné Equatorial, jamais fizeram parte do “pré carré” Francês e países que o integraram, como a Costa do Marfim, o Congo e o Gabão, ou possuem possibilidades limitadas de exploração, ou estão já na curva declinante dessas possibilidades, o que diminui o peso da influência geo estratégica Francesa, que possui acordos militares e marítimos de várias décadas a esta parte com a maior parte deles.

As bases militares Francesas no Gabão, têm servido de apoio aos navios que operam na parte Sul do Golfo da Guiné (Angola incluída) e muito recentemente, antes da visita do Presidente Sarkozy, duas dessas unidades navais, fizeram escala em Luanda.

O Presidente Sarkozy encontrou em Luanda um interlocutor que está perfeitamente “enquadrado” na geo estratégia Norte Americana para o Golfo da Guiné, apesar dos cuidados que está a demonstrar no sentido de reduzir os desenvolvimentos militares.

Isso satisfaz Washington e o Pentágono, pois onde não existem necessidades de ordem militar, (os meios são necessários no Médio Oriente – Ásia Central, no Leste da Europa, na imensa região Ásia – Pacífico e agora até nas Caraíbas, com a introdução da há muito “adormecida” IVª frota), estão lá os outros meios operativos, intimamente associados às multinacionais e aos serviços de inteligência; o “offshore” do Golfo da Guiné, pelas suas características e pelas características dos países africanos com acesso a ele, é precisamente isso que determina, em termos de quesitos operativos.

O discurso do Presidente José Eduardo dos Santos é nesse sentido esclarecedor, até por que fornece elementos sobre essa geo estratégia com tónica e enquadramento “no feminino” (é só lembrar Condollezza Rice, Jendahi Frazer, Theresa Whelan e tantas outras, incluindo a Presidente da Libéria), que agora se tornou mais comum que nunca, apenas com a mais aparente que real “contrariedade” chinesa, que vai dando afinal cada vez mais provas de integração e complementaridade com o capitalismo de tendência neo liberal que está em vigor também em Angola:

“Devemos fazer um esforço redobrado para adequar as nossas relações politicas ao nível da cooperação económica e do intercâmbio comercial existente entre os dois países.

Vivem em Angola mais de dois mil cidadãos franceses; o volume anual de negócios ultrapassa os dois biliões e meio de dólares, operam aqui mais de setenta empresas francesas, entre as quais a TOTAL-ELF, que opera em campos petrolíferos cujas reservas estão estimadas em um bilião e 284 mil barris, estando o seu volume de produção diária avaliado em duzentos e três mil barris/dia.

O Governo angolano vai continuar a desenvolver a sua politica de cooperação neste e noutros sectores, contribuindo para a segurança energética dos seus parceiros estratégicos.

Pretendemos, por esse facto e não só, que haja estabilidade e segurança no Golfo da Guiné, reforçando-se aí os mecanismos de cooperação e concertação entre todos os interessados, respeitando-se a soberania dos estados africanos”.

É evidente que o estado Angolano vai dando mostras de ter abdicado completamente duma linha original perfeitamente justificável não só durante a Guerra Fria, como hoje em dia em plena globalização neo liberal, em que os “deficits” energéticos na África Austral são tão gritantes, que têm influenciado na relativa recessão económica pela qual passa a África do Sul.

Durante a luta contra o “apartheid” era justificável o modelo de acordos petrolíferos estabelecidos por Angola com as multinacionais ocidentais, (tendo em conta o peso dos “lobbies” dessas multinacionais nos Estados Unidos e na Europa), como uma fórmula que muito contribuía para o isolamento do próprio regime do “apartheid”, retirando a hipótese de potencial apoio dessas mesmas multinacionais cada vez mais decisivas em Washington.

Por essa razão chegou-se à caricata situação dos campos petrolíferos da Cabinda estarem a ser defendidos militarmente pelas FAPLA e pelas FAR Cubanas, face a eventuais incursões das SADF e seus apêndices, apesar da política de não reconhecimento do estado Angolano, seguida por várias administrações em Washington.

É nesse sentido que o episódio da neutralização do grupo do capitão Winand Johannes Petrus du Toit, foi tão importante: a partir dele, Washington e seus aliados começaram a viragem na direcção de Angola, abandonando à sua sorte o regime do “apartheid”, que nem sequer garantia a política de “um homem, um voto”.

Com a globalização neo liberal em curso a partir dos centros financeiros capitalistas mais decisivos, o peso de estratégias estabelecidas ao nível de grupos de pressão, como o “Carlyle”, na sequência de manipulações que envolveram as regiões centrais e austrais de África e muito particularmente Angola, desvirtuaram por completo o que o Presidente Agostinho Neto havia indicado como perspectiva para um longo prazo (recordo, “na Namíbia e na África do Sul está a continuação da nossa luta”), uma perspectiva que não se aplicava só à luta contra o “apartheid”, mas que garantia um Não Alinhamento consequente a muito longo prazo, integrando os esforços do que deveria ter sido a sequência do movimento de libertação, aglutinando inicialmente ANC, MPLA, SWAPO, mas abrindo-se a todos os outros que, em plena democracia representativa, estivessem dispostos a se unirem em prol do desenvolvimento sustentável de que a África Austral tanto necessita.

A visita do Presidente Francês, é por conseguinte, uma prova de inteira vassalagem ao “diktat” Norte Americano para o Golfo da Guiné, sem alternativas para a França e para Angola e a prova está em que a África do Sul busca noutros parceiros (não em Angola, ou não com a ênfase e rapidez necessárias e possíveis), a solução para os seus aflitivos problemas energéticos.

A África Austral nada apreendeu ainda dos esforços de integração que estão em curso no outro lado do Atlântico, na América Latina, nem de suas possibilidades e as suas elites preferem ficar subsidiárias, ou mesmo agentes, dum processo que conduz a humanidade cada vez mais para um beco sem saída.

http://pagina-um.blogspot.com/2008/05/realpolitik-e-o-alinhamento-frana.html