quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Barcelona não é só Gaudí

Estou naqueles dias que Barcelona não é só Gaudí. Falo isso porque durante muito tempo afirmava que Barcelona era Barcelona por conta de Gaudí. Vc se localiza na cidade se estiver perdido por conta dele, mas ali em outros lugares escondidos de Guadí existe uma Barcelona mais encantadora, mais viva e mais cheias de histórias que os livros de história não contam. Devíamos aprender outro tipo de história quando estudamos a Europa. A primeira e a segunda guerras existiram aqui, já é muito louco de pensar, mas elas são básicas demais quando você está andando na rua e se depara com uma igreja feita pelas mãos do povo em 1329. Quando te contam que a parede daquela outra igreja está com aqueles muitos buracos, porque foi ali que caíram as primeiras bombas da guerra civil espanhola. Difícil de explicar quando tua inspiração foi embora sem ao menos de te dizer tchau já faz algumas semanas e ela aparece também sem dizer oi, abre a porta do teu quarto e já despeja tudo no seu rosto, sem tempo para retrucar ou respirar. Ele tinha me dito que ela voltaria, mas não dei atenção, até porque isso já faz mais ou menos duas semanas. Pois é, ela ta aqui do lado só me vigiando se eu não vou me distrair.

A Igreja Santa Maria del Mar - construída pelo povo em 1329

A Igreja com marcas das bombas da Guerra Civil Espanhola

Eu tenho tanta coisa para contar que não sei por onde eu começo. Podia começar por Garraf, uma praia simpática com um ar grego que fica entre Casteldelfels e Sitges. O lugar foi escolhido pela Kele na frente da máquina de tickets da estação de trem. Dizia que seu professor de espanhol já tinha falado muito bem da praia. Então ta, todo mundo concordou e lá fomos, eu, kele e a fê (amiga dela que mora em Londres), em 40 minutos estávamos andando correndo já não agüentando o tal do calor, anda, anda, escolhe um lugar p/ despejar as coisas e maaaaaaaaaaaaaaaaaaaar. Um mar lotado de pedras gigantes grudadas na areia. O jeito era nadar cachorrinho e admirar uma montanha cheia de verde com um trem passando, e ali na minha esquerda um monte de restaurantizinhos branquinhos em cima do morro. Atrás deles, a continuação de casinhas branquinhas com primaveras roxas e bem ali uma marina para dar uma graça na paisagem.


A noite uma baladinha no Raval. Mal sabia que eu tinha aberto a porta para me apaixonar pelo bairro que de tanto que já tinha ouvido falar mal, mal tive vontade de conhecer e já passava uma imagem inexistente para as outras pessoas. Acho que foi esse dia que tudo mudou. O Raval é agora um desses cantinhos escondidos de Gaudí, localizado bem no fundo do quintal de casa, que admiro por inúmeras razões. Mas primeiro a noite e depois o Raval.
Fomos encontrar os amigos da Kele, os trixistas (eles são uns guias turísticos que dirigem os trixis – um carrinho que eles vão pedalando na frente e duas pessoas sentadas atrás. Eles são amigos da Kele desde do primeiro dia que ela chegou aqui em Barcelona). Um bar de esquina, todos de pé, eles já não atendem mais nas mesinhas. Todos são simpáticos dos amigos da Kele, mas tem um que precisa ser descrito. Eu não sei o nome dele, mas depois de 5 minutos já o chamava de mestre dos magos. Imagine um cara de 50 e poucos anos, bem magro, com cabelo branco comprido e uma barba igual. Ele tem duas filhas mais ou menos da minha idade. Ele é tranqüilo, fala calmo e sempre com palavras sábias. Conversava com a Fê mesmo ela respondendo um português bem devagar.
O bar fechou, resolvemos partir para outro lugar. Voltamos para a Rambla, ficamos parados na frente de uma ruazinha curva lotada de gente esperando outros amigos que vinham de bicicleta. A ruazinha me encantava, ainda não sei se por ela ou pelas pessoas,mas já estava me sentindo em casa. A balada ficava ali dentro e se chamava Moog. Uma balada muito boa de eletrônico, que apelidei como um eletrônico pisco sussa. E é exatamente isso, um eletrônico psico leve que os europeus flutuavam, pulavam e não paravam quietos. Eu e Kele dançávamos batendo o pé no chão, não porque a música pedia, mas porque nós pedíamos isso para música acostumadas com o eletrônico psico pesado de São Paulo. Depois de algumas cervejas eu já tava flutuando como uma européia e não queria sair tão cedo de lá se não fosse a necessidade de voltar para casa porque já deu, já ta na hora.

A balada Moog e o Mestre dos Magos de barba branca com boina

Antes de passar mais uma noite no Raval uma parada para um jantar na casa do Antonio. Ele mora com 7 pessoas e um deles é italiano chefe de cozinha do Cassino. Essas boiadas eu nunca estou preparada para perder. O prato? Risoto de camarão com Lula. Simplesmente divino. Comento que minha mãe é italiana.

- de onde?
- Do sul, Calábria!
- Catso! Tua mãe deve cozinhar divinamente.
- Cozinha e muito!
- É porque ela é do Sul.
- E o que tem?
- As italianas do sul tem a cozinha como uma cultura, uma arte. Já as do norte só sabem comer, essa é a cultura delas.
- Nossa que sorte que eu tenho, eu tenho duas na minha família, a minha mãe e minha avó.
- Nossa, tua nonna ainda cozinha?
- É melhor a gente pular essa parte, jamais comi um molho vermelho igual o dela na Itália.

Falando em Itália, faz duas semanas que as passagens da Itália devem estar muito baratas para Barcelona. Eu diria sem dúvidas que aqui há mais italianos que brasileiros. Essa é a minha sorte, porque quando quero comer comida italiana há muitas opções de restaurantes com donos italianos. Pense no molho de tomate da pizza...

O risoto divino


A outra noite no Raval. Vamos até o Museu de Arte Contemporânea, apelido de MAP sei lá por que. Ele todo iluminado e as pessoas sentadas ao seu redor bebendo cerveja, outros andando de skate, patins e bike. A balada na rua. Era só isso que eu buscava tanto tempo aqui e só encontrei esses dias. Ai você segue reto, vira uma esquerda e uma direita, ali estão os bares mais bonitinhos, alternativos e aconchegantes de Barça.

Sentamos num bar alá marroquino, super bem decorado com tapetes, puffs e mesinhas de bronze. Ai começa aqueles papos loucos:

- Quando eu estava na Jamaica vi uma coisa surreal. Tem uma praia em que o rio desemboca no mar e bem ali a noite o mar quando está negro, quando vc se mexe a água fica azul brilhante, me disseram que são uns bichinhos.
- Ah é, os bichinhos se chamam plânctons. Tem no Brasil também. – comento
- Não, não, não. Isso só acontece em 5 lugares do mundo: na Jamaica, na Indonésia, na Tailândia, no Caribe e em outro lugar q me esqueci. – insiste ele.
- Os bichinhos não são verdes? - pergunto
- Claro que não menina. São azuis e brilham, fica tipo cintilante. E não dá p/ ver os bichinhos, eles são super pequenos.
- Acho q são plânctons. – afirmo novamente
- Mas no Brasil não tem!!! Tenho certeza vc está se confundindo.
- Calate! Toda vez que vou p/ Ubatuba e nado a noite vejo milhares de plânctons.
- Eu não sei o que seriam Plânctons!
- Que plâncton é esse? Que plâncton é esse? É um bichinho bonito, verdinho, que dá na água. – canto eu.

No fim da conversa dou o braço a torcer e concordo que lá na Jamaica tem uma merda de bicho diferente do que o verdinho que dá na água.

Não muito conformada ainda pergunto se não tem plânctons na Espanha. Eles não sabem dizer que bicho seria esse e muito menos sei como se fala em espanhol, então lembro do meu velho amigo Bob Esponja, pergunto se o conhecem, afinal tem o plâncton que sempre quer roubar a fórmula secreta do hambúrguer de siri. Palavras jogadas ao vento, ali ninguém sabia da existência do desenho do Bob Esponja.

Engraçado que por alguns instantes eu agradeci ali mesmo todas as vezes que nadei com os plânctons em Ubatuba.

Hora de ir para casa, viro mais algumas direitas, prefiro não passar na frente do Map e seguir reto, caio quase do mesmo jeito na Praça da Universidade, o começo do quintal da minha casa.

9 comentários:

João Prado disse...

sensacional!

beijo

In Cucina disse...

Mari, que bom viajar por Barcelona através dos seus textos!!!
Quanta coisa você já viu e aprendeu! continue aproveitando.
Beijos, Teresa

Anônimo disse...

Mari fiquei orgulhoso de ler o seu texto sobre as novas descobertas de Barcelona. As cidades são assim, quanto mais rebuscamos lugares mais apreendemos. Cada canto tem o seu histórico e vida. A Espanha sempre teve o seu território muito disputado, é por isso que dão muito valor ao lugar e a seus antepassados que lutaram para fazer do pais algo melhor.
Beijos, Papai.

Daniel Boa Nova disse...

Mari, posso estar completamente enganado... mas o que ouvi é que esses buracos na parede da igreja são sim da Guerra Civil Espanhola... só que de fuzilamentos e não de bombardeios. Parece que era um padre que deu abrigo a gente perseguida, algo assim. E aí os franquistas passaram fogo ali mesmo.

A conferir, a conferir. Bjs

Mari disse...

Oi Xarlis, então que me contou sobre as bombas foram os trixis mesmo, eles dizem que foi ali que cairam as bombas e bem do lado dessa igreja tem uma escolinha, q nesse dias morreram 42 crianças, tem até uma plaquinha na parede como uma homenagem!!! Mas vou perguntar p/ eles.
beijo

ortiz disse...

Calate!! Spiro Jiro Spairo Jairo....

ótima!

Sensacional o texto, por favor um risoto acompanhado do estupendo Spaghetti ao Molho da Nona Italiana, e um hambúrguer de Siri.

Apresente o calça quadrada.....

Em Uba, tem sim plancton, no reveillon ainda mais, no carnaval lotado e no Guarujá todo ano, mas é um plancton bem maior e marrom.....

bjs

Unknown disse...

Flooooor!!! Finalmente estou de volta à net. CHega de saudade! Li seu texto, me perdi em algumas partes, mas me encontrei em todas em que aparecem o meu nome...rs...
Esquecemos de contar um monte de coisas, inclusive que agora somos noivas!!!
Beijos!

Anônimo disse...

Marí, guerras mundiais, igrejinhas das antigas, sprirojiros, molho da nonna, lindo lindo, fiquei doido de vontade de viajar, culpa sua, saudadona, só não gosto de eletrônico, psi, transe, tecno, nunca vou gostar, esse é o único problema dos europeus, e dos paulistas..., quero embarcar na vida fora do "futuro profissional", coisa chata sem futuro, bjão, muito loco ler seus textos, jornalista!

Anônimo disse...

Fala ai prima,
Que saudades, eu no meio do mar, resolvi ler seus textos, demais, fantasticos, mto bom viajar com vc neles por barceloca...
SE cuida ai idiota mor, e estamos sempre jutnos.
Te amooooo
Bjos
Ro