A educação visa que tipo de formação? Que pessoas queremos formar? Bons cidadãos ou escravos do tempo, da tecnologia e do capital? Queremos formar profissionais sérios e comprometidos apenas no sentido técnico ou também com ética?
O ensino deveria formar cidadão capaz de renunciar ao seu egoísmo em prol de um bem comum mais pleno e vital, capaz de fazer do conhecimento um serviço, e não um mecanismo de dominação e exploração. Hoje no mundo globalizado torna-se cada vez mais importante uma ação educacional que forme o individuo do mundo, sem perder suas raízes culturais. A globalização, se for fundamentada no diálogo, na solidariedade e na participação de todos os segmentos da sociedade, pode ser uma alavanca magnífica para a paz e o crescimento dos povos.
Desde 2002, algumas escolas adotaram uma disciplina chamada pedagogia empreendedora, que tem como objetivo principal disseminar uma visão empreendedora nos estudantes. O empreendedorismo entra nas escolas para tentar relembrar que os alunos não são apenas alunos e sim cidadãos. Fernando Dolabela professor da Fundação Dom Cabral e criador da metodologia Pedagogia Empreendedora acredita que a criança deve ser vista pela escola como cidadã. “O empreendedorismo não é um tema escolar, porque a escola vê o ser humano não como um centro, mas como uma ferramenta”, comenta Dolabela.
O empreendedorismo na escola não ensina somente os estudantes a abrir uma empresa depois que saírem da universidade, ele alimenta a criatividade, a atitude e a motivação do cidadão. “O Empreendedorismo não é uma técnica, não é um conhecimento, ele é uma atitude, uma postura”, afirma a palestrante comportamental Leila Navarro. Ele mostra que a pessoa deve pensar no bem da sociedade e não apenas nele próprio. O tema aqui no Brasil é trabalhado diferentemente de outros países. Segundo Dolabela o que serve para o Canadá certamente não se aplica no Brasil por claras diferenças sociais. A proposta aqui no Brasil deve ser no desenvolvimento e na eliminação da pobreza e da exclusão. “Empreendedorismo é o processo de enriquecimento comunitário. Nós não focamos no indivíduo, focamos no crescimento comunitário, porque se você foca apenas no indivíduo, você cria uma exclusão, você elimina a pessoa”, afirma professor Fernando Dolabela.
A educação empreendedora é necessária para qualquer nação que deseja se desenvolver, através dela atingimos o desenvolvimento humano, social e econômico. Sua proposta é relembrar, despertar o empreendedor que existe em todo individuo, mas que se encontra aprisionado pelo próprio modo de viver.
O tema pode ser trabalhado com crianças a partir de quatro anos e segundo a Leila Navarro qualquer professor pode dar aula de empreendedorismo se eles tiverem isso na vida deles, se tiverem postura de empreendedor. Existem metodologias para tornar professores capacitados para dar aula desse tema. Fernando Dolabela dá a dica: “Devemos preparar os professores para que eles entrem nas aulas e comuniquem, transmitam e criem o empreendedorismo para os alunos”. Leila Navarro acredita que é fundamental investir no professor, porque ele ensina a criança e a criança ensinará os pais.
Segundo os dados do professor Fernando Dolabela, a pedagogia empreendedora já foi implementada em 121 cidades (todas as escolas da rede pública municipal) envolvendo cerca de 2.000 escolas, 10.000 professores e 400.000 alunos. No ano passado a disciplina foi adotada por todas as escolas do SESI-ES.
Um exemplo interessante quando falamos de cidadania é o Colégio Opet localizado no bairro Bom Retiro em Curitiba. Uma Cidade Mirim foi construída no pátio da escola. A cidade tem ruas, placas de sinalização, semáforos, casas, câmara municipal, ouvidoria, rádio, correio, centro cultural, oficina de reciclagem, horta, arena, casa da família, câmara dos vereadores, posto de saúde e bancos. “Esse projeto visa despertar nos alunos o interesse pela comunidade da qual fazem parte, sendo futuros geradores de mudanças e transformadores da realidade social, formando lideranças que farão diferença na sociedade”, comenta a coordenadora do projeto Andréa Beatrice Costa.
Cada escola adota sua forma de ensinar empreendedorismo e cidadania, mas Fernando Dolabela acredita em um método que tem duas perguntas: Qual é o teu sonho? e O que você vai fazer para transformar o seu sonho em realidade? “A primeira pergunta tem três objetivos: transformar o aluno em protagonista da própria vida; desenvolver a auto-estima do aluno e transferir um poder ao estudante que está longe dele mesmo”, explica Dolabela. Já a segunda pergunta mostra ao aluno que só ele pode criar as estratégias e os caminhos para realizar o sonho. E Leila Navarro garante que as pessoas empreendedoras são mais felizes porque elas empreendem os próprios sonhos, têm iniciativas, persistência, força e capacidade para materializar seus objetivos.
Segundo o filósofo grego Platão que viveu nos anos 427 a 347 a.C, o ideal é formar o individuo participante e atuante em uma comunidade. É necessário educar o homem em todas as suas dimensões e não somente na dimensão intelectual.
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