quinta-feira, 26 de abril de 2007

Jornalismo Cultural

Jornalismo cultural. Acho que essa expressão é um pouco incômoda, pelo menos para mim. Porque acho que os reporteres dos outros cadernos que não sejam o de cultura, olham com o certo desdém para quem é dessa área.

Mas vamos atrás do Aurélio... Se o conceito esclarece que é cultura todo o ambiente à parte na natureza que o homem criou para sobreviver, não só físico como também de regimentos sociais - o que numa leitura mais atual seria o nosso cotidiano urbano, então desde o repórter iniciante que foi cobrir a nova contratação do time de futebol até àquele senhor que trabalha há uns 30 anos e que escreve com maestria sobre os seus semelhantes no Senado ou na Câmara, todos eles estão fazendo jornalismo cultural, documentando a cultura. Ainda que segmentada, devido à sua enorme abrangência.

As pessoas tem uma visão meio distorcida do que é jornalismo cultural. Acham que é divertido! Divertido é escrever sobre o que se gosta, ver a matéria sendo comentada por ai... devem achar que jornalista da área de cultura tem uma vida boa, sempre escutando música, indo a cinemas e mostras de filmes brasileiros, hollwoodianos e russos. Esqueci dos iraquianos. E os shows? Que beleza, não? Mas não é apenas isso que é cultura. Cultura está em tudo.

O que observamos hoje nos chamados cadernos culturais dos jornais seria o que ficou subentendido como atividade 'lúdica' (música, pintura, etc) que o homem desenvolve, mas que mesmo assim sustenta todas as outras e/ou é aproveitada por elas. Obra de arte, a arquitetura de Brasília? Pois é de lá que vem a decisão de quanto você vai pagar de juros na prestação da geladeira nova. Achou fraquinho o exemplo?

Foi assim que se criou a indústria cultural, ferramenta com que a população é controlada de acordo com as convicções de determinado governo. Mas ai você pensa: Como uma novelinha inocente ou uma história em quadrinhos pode regular a minha vida? Então preste bastante atenção daqui pra frente quando for ler a resenha de um lançamento de CD qualquer no jornal, por exemplo. Procure pela gravadora, depois vá pesquisar qual é o seu faturamento e depare-se com a quantidade de outras empresas com que ela é ligada. Inclusive aquela agência de publicidade, na qual trabalha o publicitário que elaborou a campanha do atual presidente da república, pode estar fazendo parte desse conglomerado empresarial.

De repente ninguém mais entende como a qualidade dos programas de TV pode ter caído tanto. Siga meu raciocínio... povo ignorante é vantagem pro governo, nada mais natural para o maior nome do entretenimento nacional lançar umas cinco Darlenes por ano. Essa lavagem cerebral indireta parece ser mais sanguinária do que a propaganda descarada de governos autoritários ao extremo.

Portanto, daqui pra frente, não mais menospreze os jornalistas culturais. Com a simples resenha de um CD da Calypso ou do último filme do Homem Aranha, eles podem estar mudando o rumo da sua vida. Tenha medo deles! Medo esse que os envolve nessa aura de falta de credibilidade de que gostam tanto de ostentar e de que falem mal.

Um comentário:

João Prado disse...

Boa mônica (pernambucana é outra coisa). também é fato que o menosprezo pelo jornalismo cultura, faz parte de um público (enorme) que não lê, não escreve e não vê. por opção ou por pura burrice também. a classe media também fode nessas horas (se é que vc me entende?!)

em resumo, para mim: jornalismo é jornalismo. jornalismo ruim é jornalismo ruim. e jornalistas canalhas são jornalistas canalhas. só o nome da editoria que muda, econômico, cultural, esportes. a merda é GRANDE, mas o futuro taí.