segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Embriaguem-se de alguma coisa, por favor...

O Raval me chama mais uma vez. Dessa vez é melhor andarmos pelas ruas. Lua quase cheia. O coelho da Lua aqui sempre fica de ponta cabeça. Resolvo comentar, me acham louca. Um coelho na lua? Há loucos por todas as partes. A cada muro, a cada loja, um grafitte. E a cada grafitte uma explicação, um grafiteiro. São do bairro. Bem ali do lado, Afrika Bambaataa estava nas pick-ups. Não pude vê-lo, mas pude senti-lo através do vento gelado. Acabou o verão antes. O outono veio dizer oi sem permissão. Agora entendo a intesidade do verão aqui. Dura mais ou menos 3 meses e depois... e depois só ano que vem. Estamos em frente a uma reforma do metrô, um bando de subnorameles de diferentes países. Dessa vez só eu de brasileira com um orgulho estufado em meu peito encostada ao elevador de vidro do metrô. A lua mais uma vez ali em cima de mim acompanhada de um céu estralado. O vento gelado vem pela lateral oposta dos dois marroquinos que discutem alto a questão de ser do sul e do norte. Quem está mais perto da Espanha? pergunta um. O grupo explode de risadas. E o outro fala: você está exatamente naquele momento de Matrix, qual você quer tomar a pílula azul ou a vermelha? Acho que tomei a azul antes de pisar em Barcelona. penso eu. Resolvo sair, prefiro novamente andar pelas ruas do Raval e olhando a cena daquelas ruas lembro da frase dita pelo Alexandre do Natiruts:

. - O reggae tem a cara de Barcelona

Eu só balanço a cabeça novamente concordando com meu próprio pensamento. Eu não saberia dizer o que seria de Barcelona se tivesse uma grande quantidade de bandas de reggae, se o reggae aqui fosse cultura, se o reggae aqui estivesse presente nas baladas e nas praias. Porque pra mim o reggae muda a velocidade da vida, dos pensamentos, da respiração e do entendimento das coisas. O mundo gira um pouco mais lentamente e as vibrações são tranqüilamente absorvidas, sem quase nenhum esforço, apenas naturalmente.

Sento. Preciso beber antes de tomar qualquer decisão precipitada. Olho de novo para ruas. Eu não tenho palavras para descrevê-las. Só posso dizer que me inspiram de um jeito que gostaria de levá-las para São Paulo. Como vou viver sem elas? Prefiro não pensar. Prefiro continuar tentando descrevê-las pouco a pouco até o resto de tempo que me sobra, que me desespera e que me alegra quase na mesma intensidade. Você fala, mas sabe que não é entendido 100 por cento. Só se for na nossa língua, nas minhas palavras que já não significam a mesma coisa aqui. É necessário mais um gole. Mais um respiro e um suspiro.
Brindemos... Porque necessitamos, como diz você mesmo, estarmos embriagados. E eu me embriago de Raval.
"É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher."

Charles Baudelaire

4 comentários:

Gigia disse...

Então venha embriagar-se comigo irmã, pois é QUASE SEMPRE melhor embriagar-se ao lado de bons amigos...

In Cucina disse...

concordo com a GI, é sempre melhor embriagar-se ao lado das pessoas que te amam! Assim tudo fica bem, a cidade em que se vive fica mais bonita, os problemas ficam mais suaves e a vida flue tranquila!
Beijos, Mamy

Unknown disse...

Uau! Agora vi que a lua mexe mesmo com as pessoas. Da próxima vez quem sabe a gente se embriada juntas? De q? A gente escolhe na hora.
Beijos!

Gigia disse...

Iiaaaaaaaaaa!!! Preciso ir aí com a Tainá denovo!!! Mari, vc conta a novidade pra sua mama ou eu conto??? Ou vc ja contou??? Quero ir na sua casa tia!!! Me chama pra almoçar vai!!!!Macarronada da mama!!! É o prato favorito da Tainá!!! beijosssssss