segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Raval, Zapatero, Outono

Mesmo com um vento gelado, achei melhor sair de casa. Mas dessa vez sem a companhia de Barcelona. Agora era só eu. Simplesmente só eu. O lugar escolhido foi o MACBA. Queria ver se o Raval ainda me inspirava. Se o poço de cultura pudesse hoje só gritar em meus ouvidos. Cheguei, sentei e comprei una cerveza dos paquistaneses. O MACBA não gritou, não berrou, nem falou. Estava mudo. Como talvez deveria estar. De longe escutava "Ela não é mais a minha pequena, que pena, que pena". Sim, o cara alí que tocava e cantava era brasileiro. E ao invés de me juntar, como de costume, fiquei ali, parada, sentada, com a minha cerveja. E dá-lhe cerveja. Como pode? Como pode existir um lugar assim onde todo mundo faz o quer sem perturbação? Sem assalto, sem perigo, sem polícia? Como pode ser proibido beber na rua e aqui todo mundo pode? Bem-vindo ao mundo de MACBA falei baixinho para mim mesma. Hora de dar rolê. Andar pelo Raval parece me dar forças, parece que não lembro de mais nada, que não sinto mais nada. Olvidate! Entro num bar, sento na barra e peço una caña. E ai, sempre aparece aqueles doidos que entra no bar e grita:
- O Zapatero é um falso!!!
Ninguém liga. Só eu, que fico olhando com aquela cara pensativa... se o Zapatero é um falso, imagina o Lula. Imagina então o Fernando Henrique. E o Maluf!!!! O que seria então o Maluf?
- Eu sou a favor da esquerda!!!
- E o Zapatero não é da esquerda? pergunto eu, sem querer que as palavras saem da minha boca.
- Não! Ele é o meio entre a direita e a esquerda. A esquerda aqui vê um bem para todos, porque todos tem direito de comer.
- Acho que vocês espanhois comem bem comparados a outros países!!!
- A menina tem razão. comenta o garçom
- De onde você é?
- Do Brasil!!!
- Ah, vcs tem o Lula!!!
- Sim.
- O Lula é do povo. Está fazendo muita coisa pelo Brasil.
- o Lula esqueceu do povo. Chegou no poder e esqueceu a sua própria origem.
Ele se aproxima, mesmo eu querendo que a conversa acabe, mesmo já ter me arrependido de ter aberto minha boca e ele olha para mim e fala:
- As paisagens mudam, não?
- Hummmm, mudam!
- As pessoas também!
Ele continuou ali dizendo em tudo que acreditava sobre o comunismo e eu longe demais fiquei pensando nas paisagens. Cada estação, uma mudança. Mas as pessoas não mudam. Ou evoluem ou regridem. Não? Enfim, sempre pensei assim e continuei pensando na maldita frase.
- Viva a Espanha!!! - gitava ele
Eu engoli o que eu queria dizer. Achei melhor. O comunismo nunca funcionou porque sempre teve ditadura no poder e ditadura não funciona.
Resolvi sair e voltar para casa, percebendo que não há muitas árvores pelo Raval. Nunca tinha reparado nisso. Mas chegando em casa, nota-se lentamente que chegou o outono.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Kel disse...

O Raval não tem árvores mesmo, ainda mais depois que vc vê o filme que te falei (que por sinal é bem louco). Sim, as paisagens mudam, as pessoas mudam. Coincidentemente pensei nisso esses dias, que estou com o mesmo cara todas as noites mas que todas as noites ele é diferente e eu também. Direita, esquerda, centro...e o povo que sofre...EH mundo véio sem portera! E hoje acabaaaaa!!!
Beijos!