domingo, 31 de agosto de 2008

Asian Dub Foundation

Desde quando eu vi aquele DVD do Asian Dub Foundation do Jonny eu tinha a esperança de um dia ver aquilo ao vivo, ao ar livre, com os castelos atrás do palco e tinha que ser na Europa. Ontem eu não vi castelos, mas vi o mar...
Imagine um lugar chamado Parc de Forum, onde depois de andar muito você chega numa escadaria (arquibancada) e antes de descé-la você repara que existem dois palcos lá embaixo e um deles dá as costas para o mar. No lado direito do palco, além das barraquinhas de bebida e comida, há um caminho de árvores que te leva para uma apresentação alternativa de batuques, circo e malabares. Cheguei um pouco cedo no festival, mais ou menos duas bandas antes de Asian Dub Foundation. No palco estava Tiken Jah Fakoly um cantor de reggae africano. Nada que você não possa morrer antes de escutar, mas os franceses Le Peuple de l'Herbe se eu fosse você escutaria. Uma mistura de Z`Africa Brasil & Instituto com Asian Dub Foundation. Um eletrônico misturado com drum & bass e com dub. O som só ficou pesado quando um dos vocais falou: Bush, fuck you!! Aí sim as luzes do palco estavam todas vermelhas e o som excelente... deviam ter xingando o Bush antes. Ah, destaque para o trompetista que trazia ainda uma levada de jazz com funk. Foi ai que avisaram que Asian Dub Foundation não tocaria mais às 22h30 e sim à 01h15. Confesso que fiquei completamente irritada, talvez porque eu já previa que as duas próximas bandas me irritariam profundamente. Canteca de Macao e Amparanoia. As duas bandas para mim são quase iguais. O que difere é que Canteca de Macao tem uma vocalista alá Pitty, e que o som além de paracer mexicano como o Amparanoia, tem uma influência de flamenco interessante. Enquanto Amparanoia se apresentava eu estava sentada na arquibancada de boca aberta para o tamanho do público do grupo. Lembrei do show deles em São Paulo no Via Funchal, meia duzia de pessoas. Então levantei e me posicionei a 7 metros do palco do Asian Dub Foundation. Eles entram com Rise To The Challenge. Eis o choque. Cadê o Indio no palco? Cresceu o cabelo? Eiiiii quem é esse ai MC tão velho? Apresentam o novo CD. A música? Burning Fence. Sim Xarlis, também achei que veio para colar e acho que o vocal original voltou, porque assiti o clipe e eram eles dois que estavam ontem no palco. O público parecia que tinha ido ver mesmo Amparanoia, quase ninguém pulava. Asian gritava: Vamos Barcelonaaaaaaaaaaa, vcs estão ai? Eles só pularam muito quando tocaram Flyover e Oil. Fiquei impressionada com a iluminação do show. Confesso que estava em outra dimensão, um pouco já fora de mim, tentando achar uma explicação para o que eu estava vendo, ouvindo e sentindo sei lá como a brisa do mar. O show foi rápido. Eles sairam do nada do palco. Me assusto:

- mas já? - pergunto

Ninguém bate o pé, ninguém grita, ninguém chama o Asian de volta. Mas o italiano do meu lado tem um surto quando percebe que não tem ninguém no palco.

- Ma como???? fazendo aqueles gestos com a mão

- Pra onde foram? Foram embora?

- Ma Va Fanculoooo Festival de merda.

Eu tendo ataques de risos e percebo que Asian Dub escutou nosso amigo italiano. Voltaram apenas os musicos para um som instrumental e quando os MCs entraram no palco fecharam o show com Fortress Europe.

Arrependimento de não ter levado minha máquina, pois no ingresso dizia que era proibida a entrada de máquinas e filmadoras. O mundo estava com máquinas lá dentro. A foto foi tirada pelo meu celular.
Saindo do Parc vejo prédios grandes que me lembram São Paulo, um saudosismo... ainda mais acompanhada por aquela voz no celular.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Nada mais chato do que ser jornalista. Nada mais chato publicar algo que acontecerá. Nada mais chato do que avisar, do que indicar e do que sei lá mais o que. Desde quando apertei o pause no jornalismo, coisas aconteceram para eu ficar mais próximo dele. E continuo tendo a mesmo pensamento: que é a coisa mais chata. Outro dia reli meu blog. afffe deu vontade de apagar todos aqueles textos no qual eu dizia para você ir lá ver aquele show, aquele cara lá lançou CD e blabla. Isso para mim até um robô faz, mas robô ainda não sente, e é ai que quero chegar. Nada mais lindo quando você escreve aquilo que ninguém consegue enxergar, que não consegue sentir. Eu precisava agora de uma cama, mas o sono foi embora, depois de alguns goles de cerveja, de vinho, de absinto e de duas xícaras de café seguidas de uma hora de estrada. Contei quantos caminhões tinham. Cinco. Isso foi um choque. Como só cinco caminhões na estrada de madrugada? Chego em casa e me deparo obviamente com um jornal. Então faço as contas: 7 dias do acidente aéreo. Na capa, apenas uma frase. Nada de fotos, nada de sensacionalismo. Durante todos esses dias não existiram fotos de corpos com sangue, ou pedaços de corpos queimados. Fotos do ambiente queimado, de um tequinho ali do avião. Matérias enfocadas numa solução e nenhum incentivo à tristeza. A imprensa brasileira devia estagiar na Espanha. Devia ter guardados os jornais. Devia ter guardado também antes de ter começado as Olimpíadas. Ninguém falava sobre isso. Ninguém fez entrevistas com os atletas durante seis meses antes dizendo que eles seriam um sucesso, que trariam medalhas. Nenhuma esperança, nenhuma pressão. As olimpíadas só estavam nos jornais no dia em que começou. E a cada passo de um atleta espanhol, uma felicidade para qualquer resultado. Em nenhum momento escutei da boca de algum espanhol que aquele atleta falhou ou que amarelou. Lembrei da frase de um professor da Faculdade: O jornalismo é o quarto poder. Se concordam ou não, eu não estou aqui para discutir, eu só lembrei da frase. Mas tenho uma pergunta: a imprensa é o reflexo do país ou o país é o reflexo da imprensa?

domingo, 24 de agosto de 2008


Ontem caminhando embaixo de um chuvisco comecei a pensar que só faltam 3 meses para tudo isso acabar. Imaginei eu me despedindo de cada lugar de Barcelona aos prantos. Tudo porque nenhuma cidade me acolheu tão bem como a capital da Cataluña. Uma cidade que a cada dia que passa eu me apaixono perdidamente sem medo de me apaixonar, me entrego e me jogo de cabeça. A cada rua, a cada praça a minha vontade é só uma: abrir meu laptop e escrever, escrever. A minha inspiração borbulha a cada minuto. Uma vontade doida de registrar tudo, de contar tudo que vejo, que sinto, que penso. Hoje entendo minha mãe quando dizia que os escritores brasileiros vinham até a Europa para escrever seus livros. Eu vim, mas meu livro está dormindo neste momento, que durma, ainda não chegou o seu momento. Momento apenas de blog, de evolução, de entendimento, de compreensão. Se alguém me perguntasse se ainda sou aquela menina Mari que saiu de São Paulo no dia 12 de maio deste ano, sem pensar muito eu responderia: Não. Eu sou outra em menos de 3 meses. Continuo ainda um pouco do contra, que fala palavrão, que se encapa com escudos para os desconhecidos e viciada em música. O que seria de mim sem meu ipod? Mas já sou bem menos stressada, não tenho tanta pressa, não discuto, sorrio quase 24 horas e agradeço por simplesmente estar vivendo. Isso me lembra muito uma pessoa: a minha irmã. As duas temporadas que passei com ela em Jericoacoara eu admirava muito isso nela, a certeza que ela vivia todos os dias. Em São Paulo eu tenho a sensação que apenas sobrevivo. Mas depois de três meses aqui tendo a certeza que cada dia eu vivo intensamente, percebi que isso vem da pessoa e não do lugar. E que isso é uma das coisas que quando voltar para São Paulo tentarei colocar em prática. Um jantar não é um simples jantar e uma cerveja na mesa com os amigos não é apenas uma cerveja com os amigos. Há muito mais coisas por trás disso, basta você querer enxergar...

Las Fuentes Mágicas





Ontem junto com a Kele fui ver as fontes mágicas de Montjuic. Quando você mora na cidade, você acaba deixando para fazer muita coisa depois. A questão é que o verão tá acabando e as fontes também. Quando eu cheguei na Plaza España confesso: voltei sem ao menos saber a mari bochechuda de 11 anos. Eu não tenho muitas lembranças daqui quando estive com 11 anos, mas as fontes estavam no meu inconsciente. Vi ali naquele canto eu ao lado dos meus pais e dos meus irmãos e lembrei de quase todas as frases que minha mãe falava no momento do show.

Desviamos de todos os turistas e subimos até o topo, agora sim víamos as fontes lá embaixo, a Plaza e bem alí no fundo Tibidabo todo iluminado. E ai, você fica de cara mais uma vez ao ver que Barcelona é tão bem distribuída. Assim que o show terminou resolvemos pegar a calle Gran Via e voltar a pé. Em menos de 15 minutos andando tranqüilamente embaixo de um chuvisco chegamos na Plaza da Universidad, o começo do meu quintal.

sábado, 23 de agosto de 2008

Hace tiempo que no escribo una poesia. Y hacia mucho tiempo que cosas así no ocurrían, no me molestaban. As veces me pregunto se todo no pasa de una pelicula. Pero solo escucho que eso todo es la movida de Barcelona. Sí, creo que sí. Por que escribo español? Ya no lo sé. La verdad es que mi olla ya está una mescla. Una caña porfa. Y lo que piensar de personas que le gusta café con hielo? Es de puta madre esta mania. Las personas me preguntan y tu libro como está? Está parado, totalmente parado. Aqui la polícia es mejor, pero no me encanta verlos. Me quedo también empalmada, as veces creo que cambié el dia por la noche. Sí, y que puedo hacer? Es mi curro. Y no te olvide, me flipa esta vida, esta ciudad y mi peña. Un porro porfa. Y se eres un mangui, yo también seré. Sabes que no son todas las personas que saben vender la moto. Otra mediana porfa. Me encanta este bollito, pero solo puedo decir: agua, agua. Mira un garito guay!!! Entramos para tomarmos otras copas? Joder tia, creo que seria bueno. Un chupitooo porfa. Bueno, pues ahí te quedas, no? Yo me las piro. Que te vaya bien! Bona Nit.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Me cago en la puta!

Às vezes me sinto de outro mundo, tudo porque quando escuto um espanhol falando 18 mil palavrões numa frase só, eu tenho ataques de risos. Se alguém me perguntasse se os italianos falam mais palavrão que os espanhois, eu ficaria em dúvida. Os espanhois são viciados em palavrões. Apesar de serem católicos, ou de já terem sido, o palavrão que me chama mais atenção é Hóstia, que significa Óstia da igreja. Acho engraçado e pesado ao mesmo tempo. Pior ainda quando soltam Hóstia Puta! Essa expressão é tão usada como joder. Joder está a cada início ou final de cada frase. Essa confesso que já está em quase todas as minhas frases, às vezes para ficar mais leve eu falo: joder cariño. hehehe. Mas existe um que não sai da minha cabeça essa semana, não sei porque, ou sei... Me cago en la puta! Juro que essa deveria existir em português, serve para tanta coisa... tem ainda aqueles que falam: Me cago en tu puta madre!!
Que vaya bien!!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Bem vindo a Festa de Grácia...


Keke e Cas
Pista na
Plaza del Folk
É só falar em festa que eu e Keke já estamos pulando e nos jogando em qualquer canto. A festa de Grácia começouuuuuuuuuuuuuuuuuu!!! Grácia é um dos bairros mais bonitinhos de Barcelona, super alternativo, é ali que tem alguns cinemas com filmes legendados, meu bairro favorito para jantar, lotados de jovens e também repleto de velhinhos, Grácia é uma comunidade, onde todo mundo conhece todo mundo. E bem no meio do mês de agosto os moradores do bairro fazem a tradicional festa de Grácia. As ruas decoradas, enfeitadas, coloridas, com barraquinhas, com desfiles, esculturas de bichos, uma mistura de festa junina com carnaval. Só que agora mistura mais tudo que você possa imaginar.... isso é Grácia, ou melhor isso é Barcelona.

Entramos numa das tendas de música, que se chamava Plaza del Folk. O DJ psico misturava um eletrônico com músicas celtas. Consegue imaginar? Confesso que fiquei 5 minutos parada ao redor de pessoas surtando com o som, eles dançavam batendo o pé no chão, pulando se abraçavam e rodavam com os amigos. Sim, estávamos na Irlanda, exatamente ali, no meio de Barcelona. Bora dançar porque a música contagia, porque jamais escutei algo parecido, porque a música celta me choca, me encanta, porque para quem não sabe, além da Jamaica eu também nasci na Escócia.

Um espaço é uma porção de tempo capturado

Queria ter escrito essa frase antes

Show do Natiruts






À caminho da casa da Keke no Gótico




quarta-feira, 13 de agosto de 2008

13 de agosto. Seria melhor ainda se caisse numa sexta-feira. Mas é quarta. Dia em que completo 3 meses de Barcelona, 20 anos da morte do meu nono, e um dia de mudança. Nada acontece por acaso. Nada mesmo. Um dia estranho, nublado, fresco até demais para um dia de agosto. Saio de casa, vou até a praça do Museu. Fico alí horas com Kele só falando, falando. É bom demais voltar a morar do lado de um museu, pelo menos para mim. Melhor ainda é ver a vida passar pela sua frente e ter mais tempo para pensar. É real, em São Paulo vivemos alienados, sem tempo para nada, muito menos para ver ela passar assim na sua frente. Sábios são os europeus que trabalham pouco, não tem sonho de ficar rico e muito menos de subir de cargo. Eles só querem mesmo é curtir da melhor maneira a vida, que seja num almoço num dia de semana com 3 horas de duração. Já dá para ver a vida passar alí entre os pratos e os copos.
Depois de três meses vivendo aqui, muitas coisas aconteceram e ainda acredito que a maioria delas que aconteceram estão dentro de mim guardadas. Ainda acredito que foi a melhor escolha ter vindo para cá. Como 3 meses passam tão rápido e como você absorve tudo calmamente. Quando eu estava ali no fundo, me deram a mão, quando eu me deixei de lado, me encontrei. Hoje voltei para casa sozinha na madruga andando. Confesso pensei demais. Um dia estranho, depois de tanto tempo senti um frio da porra, um coração esmagado e uma verdade escorrendo pelo ralo. Eu não pedi para saber, foi o destino que apareceu. Sou jornalista, mesmo não querendo ser.

sábado, 9 de agosto de 2008

Antes de eu ir pro Céu...

Seguindo a corrente do blog do Osama, as oitos coisas que eu gostaria de fazer antes de morrer é:
1) Pular de pára-quedas. Depois que fiz kitesurf, circo e pousei nessa cidade, sinto que já estou preparada.

2) Fazer uma tatoo grande nas minhas costas. A verdade é que sempre senti vontade de ter uma no pescoço, mas depois que vim p/ cá, tenho certeza que será nas costas e antes de voltar para o Brasil.

3) Passar pela Índia, Egito e Indonésia.

4) Ter meus dois filhos Mateus e Lua(na) com o homem que tiroteia o meu coração, vulgo o asteca da minha vida.

5) Escrever meus livros e viver disso.

6) Morar numa casa de praia e ter um veleiro.

7) Viver perto dos meus amigos porque isso não tem preço.

8) E óbvio, me teletransportar.

y ya está!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Barcelona não é só Gaudí

Estou naqueles dias que Barcelona não é só Gaudí. Falo isso porque durante muito tempo afirmava que Barcelona era Barcelona por conta de Gaudí. Vc se localiza na cidade se estiver perdido por conta dele, mas ali em outros lugares escondidos de Guadí existe uma Barcelona mais encantadora, mais viva e mais cheias de histórias que os livros de história não contam. Devíamos aprender outro tipo de história quando estudamos a Europa. A primeira e a segunda guerras existiram aqui, já é muito louco de pensar, mas elas são básicas demais quando você está andando na rua e se depara com uma igreja feita pelas mãos do povo em 1329. Quando te contam que a parede daquela outra igreja está com aqueles muitos buracos, porque foi ali que caíram as primeiras bombas da guerra civil espanhola. Difícil de explicar quando tua inspiração foi embora sem ao menos de te dizer tchau já faz algumas semanas e ela aparece também sem dizer oi, abre a porta do teu quarto e já despeja tudo no seu rosto, sem tempo para retrucar ou respirar. Ele tinha me dito que ela voltaria, mas não dei atenção, até porque isso já faz mais ou menos duas semanas. Pois é, ela ta aqui do lado só me vigiando se eu não vou me distrair.

A Igreja Santa Maria del Mar - construída pelo povo em 1329

A Igreja com marcas das bombas da Guerra Civil Espanhola

Eu tenho tanta coisa para contar que não sei por onde eu começo. Podia começar por Garraf, uma praia simpática com um ar grego que fica entre Casteldelfels e Sitges. O lugar foi escolhido pela Kele na frente da máquina de tickets da estação de trem. Dizia que seu professor de espanhol já tinha falado muito bem da praia. Então ta, todo mundo concordou e lá fomos, eu, kele e a fê (amiga dela que mora em Londres), em 40 minutos estávamos andando correndo já não agüentando o tal do calor, anda, anda, escolhe um lugar p/ despejar as coisas e maaaaaaaaaaaaaaaaaaaar. Um mar lotado de pedras gigantes grudadas na areia. O jeito era nadar cachorrinho e admirar uma montanha cheia de verde com um trem passando, e ali na minha esquerda um monte de restaurantizinhos branquinhos em cima do morro. Atrás deles, a continuação de casinhas branquinhas com primaveras roxas e bem ali uma marina para dar uma graça na paisagem.


A noite uma baladinha no Raval. Mal sabia que eu tinha aberto a porta para me apaixonar pelo bairro que de tanto que já tinha ouvido falar mal, mal tive vontade de conhecer e já passava uma imagem inexistente para as outras pessoas. Acho que foi esse dia que tudo mudou. O Raval é agora um desses cantinhos escondidos de Gaudí, localizado bem no fundo do quintal de casa, que admiro por inúmeras razões. Mas primeiro a noite e depois o Raval.
Fomos encontrar os amigos da Kele, os trixistas (eles são uns guias turísticos que dirigem os trixis – um carrinho que eles vão pedalando na frente e duas pessoas sentadas atrás. Eles são amigos da Kele desde do primeiro dia que ela chegou aqui em Barcelona). Um bar de esquina, todos de pé, eles já não atendem mais nas mesinhas. Todos são simpáticos dos amigos da Kele, mas tem um que precisa ser descrito. Eu não sei o nome dele, mas depois de 5 minutos já o chamava de mestre dos magos. Imagine um cara de 50 e poucos anos, bem magro, com cabelo branco comprido e uma barba igual. Ele tem duas filhas mais ou menos da minha idade. Ele é tranqüilo, fala calmo e sempre com palavras sábias. Conversava com a Fê mesmo ela respondendo um português bem devagar.
O bar fechou, resolvemos partir para outro lugar. Voltamos para a Rambla, ficamos parados na frente de uma ruazinha curva lotada de gente esperando outros amigos que vinham de bicicleta. A ruazinha me encantava, ainda não sei se por ela ou pelas pessoas,mas já estava me sentindo em casa. A balada ficava ali dentro e se chamava Moog. Uma balada muito boa de eletrônico, que apelidei como um eletrônico pisco sussa. E é exatamente isso, um eletrônico psico leve que os europeus flutuavam, pulavam e não paravam quietos. Eu e Kele dançávamos batendo o pé no chão, não porque a música pedia, mas porque nós pedíamos isso para música acostumadas com o eletrônico psico pesado de São Paulo. Depois de algumas cervejas eu já tava flutuando como uma européia e não queria sair tão cedo de lá se não fosse a necessidade de voltar para casa porque já deu, já ta na hora.

A balada Moog e o Mestre dos Magos de barba branca com boina

Antes de passar mais uma noite no Raval uma parada para um jantar na casa do Antonio. Ele mora com 7 pessoas e um deles é italiano chefe de cozinha do Cassino. Essas boiadas eu nunca estou preparada para perder. O prato? Risoto de camarão com Lula. Simplesmente divino. Comento que minha mãe é italiana.

- de onde?
- Do sul, Calábria!
- Catso! Tua mãe deve cozinhar divinamente.
- Cozinha e muito!
- É porque ela é do Sul.
- E o que tem?
- As italianas do sul tem a cozinha como uma cultura, uma arte. Já as do norte só sabem comer, essa é a cultura delas.
- Nossa que sorte que eu tenho, eu tenho duas na minha família, a minha mãe e minha avó.
- Nossa, tua nonna ainda cozinha?
- É melhor a gente pular essa parte, jamais comi um molho vermelho igual o dela na Itália.

Falando em Itália, faz duas semanas que as passagens da Itália devem estar muito baratas para Barcelona. Eu diria sem dúvidas que aqui há mais italianos que brasileiros. Essa é a minha sorte, porque quando quero comer comida italiana há muitas opções de restaurantes com donos italianos. Pense no molho de tomate da pizza...

O risoto divino


A outra noite no Raval. Vamos até o Museu de Arte Contemporânea, apelido de MAP sei lá por que. Ele todo iluminado e as pessoas sentadas ao seu redor bebendo cerveja, outros andando de skate, patins e bike. A balada na rua. Era só isso que eu buscava tanto tempo aqui e só encontrei esses dias. Ai você segue reto, vira uma esquerda e uma direita, ali estão os bares mais bonitinhos, alternativos e aconchegantes de Barça.

Sentamos num bar alá marroquino, super bem decorado com tapetes, puffs e mesinhas de bronze. Ai começa aqueles papos loucos:

- Quando eu estava na Jamaica vi uma coisa surreal. Tem uma praia em que o rio desemboca no mar e bem ali a noite o mar quando está negro, quando vc se mexe a água fica azul brilhante, me disseram que são uns bichinhos.
- Ah é, os bichinhos se chamam plânctons. Tem no Brasil também. – comento
- Não, não, não. Isso só acontece em 5 lugares do mundo: na Jamaica, na Indonésia, na Tailândia, no Caribe e em outro lugar q me esqueci. – insiste ele.
- Os bichinhos não são verdes? - pergunto
- Claro que não menina. São azuis e brilham, fica tipo cintilante. E não dá p/ ver os bichinhos, eles são super pequenos.
- Acho q são plânctons. – afirmo novamente
- Mas no Brasil não tem!!! Tenho certeza vc está se confundindo.
- Calate! Toda vez que vou p/ Ubatuba e nado a noite vejo milhares de plânctons.
- Eu não sei o que seriam Plânctons!
- Que plâncton é esse? Que plâncton é esse? É um bichinho bonito, verdinho, que dá na água. – canto eu.

No fim da conversa dou o braço a torcer e concordo que lá na Jamaica tem uma merda de bicho diferente do que o verdinho que dá na água.

Não muito conformada ainda pergunto se não tem plânctons na Espanha. Eles não sabem dizer que bicho seria esse e muito menos sei como se fala em espanhol, então lembro do meu velho amigo Bob Esponja, pergunto se o conhecem, afinal tem o plâncton que sempre quer roubar a fórmula secreta do hambúrguer de siri. Palavras jogadas ao vento, ali ninguém sabia da existência do desenho do Bob Esponja.

Engraçado que por alguns instantes eu agradeci ali mesmo todas as vezes que nadei com os plânctons em Ubatuba.

Hora de ir para casa, viro mais algumas direitas, prefiro não passar na frente do Map e seguir reto, caio quase do mesmo jeito na Praça da Universidade, o começo do quintal da minha casa.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Barceloca


É incrível como os dias passam mais rápidos do que em São Paulo. É uma sensação muito louca, por exemplo faz só um mês que a Fê tava aqui e quando conto para as pessoas que ela passou por aqui, tenho a impressão que foi há uns dois meses. Cada dia é um episódio novo. Já perdi as contas de quantos djs já conheci e de quantas listas de som do Brasil já passei. Sempre a mesma história: eles falam que são dj e eu nunca acredito, ai eles soltam as pérolas: Eu curto Racionais MCs, Sabotage e Z'Africa Brasil. Ok ponto para vocês, baixam esse e esse som que vcs vão curtir.


Quando me perguntam se aqui está quente, eu nunca consigo dizer o quanto está quente. Todo dia o termômetro passa dos 30 graus e a noite continua o mesmo calor. Minha mãe sempre me explica que a Espanha é continuação do deserto. Maldita localização. Quase todo dia eu tenho a sensação que vou desmaiar e a única coisa que me salva é o meu leque. Que por sinal é a melhor invenção do mundo, além de ser um ventilador portátil, ele serve p/ bater no corrimão das escadas para as pessoas darem passagem e serve também como uma máscara quando não quero ser reconhecida.


Enquanto os brasileiros chamam Barcelona de Barça, o resto do mundo a chama de Barceloca. Realmente é uma cidade muito louca. Se quiser vc pode andar pelado não pega nada, nem uma multa e óbvio que tem os loucos que andam pelados, além disso a cidade é escolhida para as despedidas de solteiro, então é super normal você ver o noivo fantasiado ridiculamente andando pela cidade com seus amigos ou a noiva e suas amigas com asas de borboleta. A quantidade de gays pela cidade também assusta, principalmente se vc vai até a praia Marbella. Alí é a praia de nudismo e também onde ficam os gays. Um dia fui distribuir flyers lá me achando super moderna, começo a andar pela praia, entrego um flyer aqui, outro alí, passa um minuto e já estou de frente para o mar e de costas para as pessoas, ai chega a Kele, olho para ela e falo que estou passada que não sou taaaao moderna assim. Um horror! Nas outras praias um choque também: todas as mulheres de qualquer idade fazem top less. Jogam frescoball, baralho, correm, entram no mar, tudo de peito de fora. Como diria um amigo meu: é uma passada.

Nas praças vc sempre vê um casal se atracando, homem com mulher ou homem com homem. Eu tenho a felicidade de morar num bairro gay. Nunca vi tanto gay bonito como aqui. Ao lado de casa tem um hotel gay super famoso chamado Axe. Outro dia passei na frente e a decoração do Hotel é maravilhosa e óbvio, todos que trabalham lá são gays. Uma cidade tão liberal tem que proibir algumas coisas e tem duas que acho ridículo: não pode beber andando pelas ruas e nem grafitar. Para grafitar algum lugar você precisa ter autorização da prefeitura, ou seja quase não tem grafite por aqui.