segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Raval, Zapatero, Outono

Mesmo com um vento gelado, achei melhor sair de casa. Mas dessa vez sem a companhia de Barcelona. Agora era só eu. Simplesmente só eu. O lugar escolhido foi o MACBA. Queria ver se o Raval ainda me inspirava. Se o poço de cultura pudesse hoje só gritar em meus ouvidos. Cheguei, sentei e comprei una cerveza dos paquistaneses. O MACBA não gritou, não berrou, nem falou. Estava mudo. Como talvez deveria estar. De longe escutava "Ela não é mais a minha pequena, que pena, que pena". Sim, o cara alí que tocava e cantava era brasileiro. E ao invés de me juntar, como de costume, fiquei ali, parada, sentada, com a minha cerveja. E dá-lhe cerveja. Como pode? Como pode existir um lugar assim onde todo mundo faz o quer sem perturbação? Sem assalto, sem perigo, sem polícia? Como pode ser proibido beber na rua e aqui todo mundo pode? Bem-vindo ao mundo de MACBA falei baixinho para mim mesma. Hora de dar rolê. Andar pelo Raval parece me dar forças, parece que não lembro de mais nada, que não sinto mais nada. Olvidate! Entro num bar, sento na barra e peço una caña. E ai, sempre aparece aqueles doidos que entra no bar e grita:
- O Zapatero é um falso!!!
Ninguém liga. Só eu, que fico olhando com aquela cara pensativa... se o Zapatero é um falso, imagina o Lula. Imagina então o Fernando Henrique. E o Maluf!!!! O que seria então o Maluf?
- Eu sou a favor da esquerda!!!
- E o Zapatero não é da esquerda? pergunto eu, sem querer que as palavras saem da minha boca.
- Não! Ele é o meio entre a direita e a esquerda. A esquerda aqui vê um bem para todos, porque todos tem direito de comer.
- Acho que vocês espanhois comem bem comparados a outros países!!!
- A menina tem razão. comenta o garçom
- De onde você é?
- Do Brasil!!!
- Ah, vcs tem o Lula!!!
- Sim.
- O Lula é do povo. Está fazendo muita coisa pelo Brasil.
- o Lula esqueceu do povo. Chegou no poder e esqueceu a sua própria origem.
Ele se aproxima, mesmo eu querendo que a conversa acabe, mesmo já ter me arrependido de ter aberto minha boca e ele olha para mim e fala:
- As paisagens mudam, não?
- Hummmm, mudam!
- As pessoas também!
Ele continuou ali dizendo em tudo que acreditava sobre o comunismo e eu longe demais fiquei pensando nas paisagens. Cada estação, uma mudança. Mas as pessoas não mudam. Ou evoluem ou regridem. Não? Enfim, sempre pensei assim e continuei pensando na maldita frase.
- Viva a Espanha!!! - gitava ele
Eu engoli o que eu queria dizer. Achei melhor. O comunismo nunca funcionou porque sempre teve ditadura no poder e ditadura não funciona.
Resolvi sair e voltar para casa, percebendo que não há muitas árvores pelo Raval. Nunca tinha reparado nisso. Mas chegando em casa, nota-se lentamente que chegou o outono.

Montjuic, Praia, Universidade e Catedral

Precisando de um abraço, Barcelona me abraçou forte. Prendeu até meu ar, então também abracei. Fiquei assim uns dez minutos até começar a sussurar em seus ouvidos. Barcelona precisava ouvir. E ao invés de falar, segurou minha mão e me levou em cinco lugares diferentes nesses quatro dias. Um por vez. O primeiro foi Montjuic. Ela sabia que era forte e grande e só Montjuic para me acolher como me acolheu. Depois, sabiamente me levou até Bogatell, passei a tarde inteira olhando para o mar com a boca aberta. Bogatell sempre foi um lago e bem nesse dia rolavam altas ondas. É estranho olhar para o horizonte e não imaginar a África. Chegando em casa, me aconselhou a entrar no jardim da Univesidad de Barcelona. Um lugar calmo, zen, verde e bem no quintal de casa. No dia seguinte, me arrastou até a Catedral Santa Maria del Mar. A grandiosa construída pelo povo me ouviu calmamente com intervalos de prantos. Fiquei alí, jogada, sentada, tentando entender o que eu fazia mesmo dentro de uma igreja. Engoli o choro e encontrei a paz. O último lugar foi necessário pegarmos um trem. Ela dizia que eu precisava conhecer a Universidad Autonoma de Barcelona. Quando entrei, fiquei de cara. Imaginem a USP e agora tire tantas ruas para os carros e adicione caminhos para apenas pessoas. Olho para Barcelona com um olhar de agradecimento, é bom tentar curar sua tristeza em lugares como esses. E novamente sussurei nos seus ouvidos...baixinho...



domingo, 28 de setembro de 2008

Perdão você

"Cores imagens
Cores imagens
Cores imagens
Cores


Originais
As flores demais
As cores e mais amores


Cores imagens
Cores imagens
Cores imagens
Cores


Originais
As flores demais
As cores e mais amores


Não me ensina a morrer
Que eu não quero
Há diferença abstinente
No prosseguir da gente
Sei que a tendência
Anda nas frestas
No decidir da mente
É como se perder de Deus
E eu não quero


Eu não quero me perder
Eu não quero te perder
Perdao você


Eu não quero me perder
Eu não quero te perder
Perdao você"


Marisa Monte

sábado, 27 de setembro de 2008

Baladinha Pio XII em Barça


“Sou alguém que precisou estar longe de tudo que mais ama pra descobrir a si mesma. Vim com a certeza que foi a melhor escolha. Quando não tinha nada a perder, recebi tudo...quando deixei de ser quem eu era, encontrei a mim mesma. Sou alguém que tem uma luta diária e só busca o melhor, a tal da evolução. Busca incessante, que às vezes cai, mas só se levanta mais forte. Que acredita numa luz maior que me rege sempre. Que procura ver o lado positivo de cada situação, até mesmo quando parece não existir. Que acredita que só nos conhecemos quando encontramos nossos próprios limites e dai vem a experiência.. Alguém que acredita que o encontro de certas pessoas já foi combinado pelas almas antes mesmo que os corpos se encontrem. Que não acredita na frase “o que os olhos não vêem o coração não sente”, pois é justamente a distância que lembramos de cada detalhe das pessoas que mais amamos...se passo na rua, cada pessoa, cada gesto me faz lembrar das pessoas que agora estão tão distante. Cada frase típica, o cheiro, o jeitinho, cada detalhe. Os pequenos detalhes fazem a grande diferença, eles encantam, são particularidades de cada um e por isso se tornam especiais...eternos. Sou alguém que gosta de extremos. Brincar de harmonizar os opostos é uma arte e acredite dá certo. Você pode escolher entre ser uma vítima do mundo ou uma aventureira em busca do seu tesouro. Tudo é uma questão de como vai encarar sua vida, que é uma montanha russa, às vezes estamos por cima, às vezes por baixo. Mas como disse sempre tem o lado positivo. Se não é a conquista, é o amadurecimento ou mesmo a experiência...tudo tem que valer a pena. Basta acreditar que no final tudo vai da certo. Sou alguém que acredita em compensações...algo que anda sendo muito explicito na minha vida...ando recebendo anjos que serão eternos. Tudo isso dá muita forca pra seguir em frente e querer sempre mais. O melhor, sem egoísmo ou egocentrismo. Admiro a humildade, a compreensão e ter personalidade é o que há. Amo sorrisos sinceros, conversas, amigos, confiança e amizade é sem dúvida o maior tesouro. Minha família...minha luz...minha vida. Na busca pela felicidade estamos todos empatados, basta você fazer sua parte.”

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"Amo a liberdade, por isso...deixo as coisas que amo livres,se elas voltarem é porque as conquistei,se não voltarem é porque nunca as tive."
John Lennon
"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”
Amyr Klink

Uma cidade romântica, louca e cheia de regras






Amsterdam nos recebeu com um frioooo e um tempo nublado. Assim que deixamos nossas malas no albergue e pegamos um mapa em direção a lugar nenhum, o sol apareceu e transformou a cidade naquelas cenas de filme de outono. Pensei que encontraria pessoas enlouquecidas numa cidade organizada. E me deparei com o oposto. Os holandeses são super arrumados e a cidade um pouco louca demais. O bondinho passa ali do seu lado e se você não prestar atenção nas bicicletas, você certamente será atropelado. Depois vem os carros. Talvez ali depois o pedestre tem vez. Mas mesmo assim não tem problema, porque logo você se depara com os canais. E eles te dão mais um motivo para você sorrir. Uma temperatura de 11 graus acompanhado de um vento gelado com um sol que aquecia, íamos andando por ai. Esse era o objetivo. Ir por ai na cidade doida, observando a vida deles, conhecendo os picos e ouvindo as informações que as pessoas davam, um pouco vazias às vezes, mas davam. Depois de rodarmos pelo centro, resolvemos no dia seguinte aproveitar o sol. Passamos o dia jogados em dois lugares no Vondelpark – um dos parques mais lindos que já vi na minha vida e no Museumplein. À noite jantamos ao lado de um canal vendo as pessoas fazendo baladas distintas em barquinhos. Passei dois dias tentando pensar em muita coisa, mas tava difícil pensar e de falar. Um passeio pelas vitrines das putas quase todas de óculos de grau querendo passar um ar de intelectualidade. Amsterdam é uma cidade romântica, liberal e acompanhada de muitas regras. A minha boina cru decidiu ficar por alí nas ruas dos canais. Uma trip de dois dias repleta de ataques de risos e de uma completa evolução. E mais uma vez, eu só posso agradecer.

Quarta Visita


Ele acaba de descer as escadas. Já estou com coração apertado. Quero ver eu acordar amanhã e não vê-lo. Uma semana de risadas, de línguas mordidas para o lado, de abraços quase sem ar, de loucuras, de descobertas, de segredos. Ontem ele me sacudiu, segurou nos meus braços e repetiu três vezes: Você é muito forte, você é muito foda. Confesso: ele segurou a barra legal. Ele me ouviu na hora que pediu para eu falar, e quando eu quis falar aos prantos, ele pediu silêncio e me abraçou como um pai. Caralho, a gente é muito irmão. É isso que me dá força. Porque sem você e sem o Silvestri eu seria só metade da Mari. Obrigada pela Sagrada Família, por Amsterdam, pela dormida no Parc Ciutadella, pela tarde na champegnheria, pelas caminhadas mesmo você me xingando, pelo ano novo de hoje a noite acompanhados pelo castelo, pela fonte, pela luz, pela música e pelos 30 minutos seguidos de fogos artíficios, obrigada simplesmente por tudo e daqui dois meses, a gente se vê!
Depois de alguns dias de chuva aqui em Barcelona, hoje fez sol como de costume. Sai cedo de casa pensando como os catalães são fortes. Hoje é dia da Mercé, a padroeira de Barcelona. Tantas festas nas ruas, o sol tinha que aparecer. Fui em direção a Montjuic. Precisava ver hoje algo muito grande que me confortasse, e só o castelo de Montjuic era capaz. Quando cheguei na Plaza España, sentei no primeiro banco e desabei. Chorei como há tempos não chorava. Preciso ser forte, mas muito forte e mesmo assim eu desabei. Eu tenho a mistura de sangue italiano com espanhol e quem me conhece, percebe, é nítido. Mas hoje me considerei catalã, como nunca imaginei um dia me considerar. Tive sonho de nascer aqui, tive orgulho desse povo que tem uma força alá corinthias, talvez seja por isso que o padroeiro de Barcelona é São Jorge. Meras coincidências. A força vem de dentro. É ele lá em cima querendo provar algo. Motjuic na minha frente, a arena de Barcelona atrás. O sangue pulsa. Olho novamente para a Arena. Me vejo, me imagino. A força que está comigo agora é a mesma coragem de uma toreira. Que venham os touros...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pára tudo!

Páaaaara tudo, eu quero descer. No momento estou no bondinho indo até Tibidabo. Sim são 23h15. Devia estar dormindo. Amanhã tenho que buscar meu melhor amigo no aeroporto, mas a minha melhor amiga que não vejo há dois anos me ligou acompanhada de uma garrafa de vinho e eu???? eu acompanhada de voll-damm. Jurei que não beberia mais voll-damm, mas quando tua melhor amiga te liga e você abre a geladeira e só tem voll-damm, é voll-dam que você bebe. Louca para te encontrar e louca para te abraçar, eu vim correndo para isso. É reggae para variar. Sou viciada, sou viciada. Em tudo. Prepare-se! Daqui há 3 meses eu volto e preciso me preparar. Vem para enfeitar meu mundo. Pára, eu preciso descer. Pára o bonde. O barça ganhou e isso significa muita coisa. E o corinthians? Não sei. Mas quando alguém fala de corinthians eu grito: Aqui tem um bando de louco, louco por ti corinthians. sempre. sempre. Cadê a camisa? Tá aqui e tá chegando outra. Lembro do dia que me falaram: Ahhhh, vc arranja outtra. Não! não! Se alguém soubesse a intensidade da amizade, ficaria de cara. 100 minutos de conversa, conversamos como se nos vissemos ontem, mas faz dois anos e a compreensão é intesnsa. Gritosss se você casar, você me avisa 6 meses antes?????? Lógico. Minha amiga de infância casou esses dias, talvez a noiva mais linda que já vi, pelas fotos, mas a mais linda certeza. Sucesso. Amigos virando pais. Sorte, suceeso, vai com fé. Assim se vive a vida. Tantas coisas para dizer, tantas coisas para viver, tantos planos a concretizar. Ah se os pensamentos virassem realidade. Pára que eu quero descer. Por que você me olha assim? Eu já disse, vim aqui e construi um muro, e você insiste em grafita-lo, assim complica, assim complica. Pára. Pára que eu quero descer, aviso aos navegantes daqui 3 dias estarei em Amsterdan com melhores amigos, repito, com melhores amigos. Dá para alguém parar o bonde? Gracias.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Embriaguem-se de alguma coisa, por favor...

O Raval me chama mais uma vez. Dessa vez é melhor andarmos pelas ruas. Lua quase cheia. O coelho da Lua aqui sempre fica de ponta cabeça. Resolvo comentar, me acham louca. Um coelho na lua? Há loucos por todas as partes. A cada muro, a cada loja, um grafitte. E a cada grafitte uma explicação, um grafiteiro. São do bairro. Bem ali do lado, Afrika Bambaataa estava nas pick-ups. Não pude vê-lo, mas pude senti-lo através do vento gelado. Acabou o verão antes. O outono veio dizer oi sem permissão. Agora entendo a intesidade do verão aqui. Dura mais ou menos 3 meses e depois... e depois só ano que vem. Estamos em frente a uma reforma do metrô, um bando de subnorameles de diferentes países. Dessa vez só eu de brasileira com um orgulho estufado em meu peito encostada ao elevador de vidro do metrô. A lua mais uma vez ali em cima de mim acompanhada de um céu estralado. O vento gelado vem pela lateral oposta dos dois marroquinos que discutem alto a questão de ser do sul e do norte. Quem está mais perto da Espanha? pergunta um. O grupo explode de risadas. E o outro fala: você está exatamente naquele momento de Matrix, qual você quer tomar a pílula azul ou a vermelha? Acho que tomei a azul antes de pisar em Barcelona. penso eu. Resolvo sair, prefiro novamente andar pelas ruas do Raval e olhando a cena daquelas ruas lembro da frase dita pelo Alexandre do Natiruts:

. - O reggae tem a cara de Barcelona

Eu só balanço a cabeça novamente concordando com meu próprio pensamento. Eu não saberia dizer o que seria de Barcelona se tivesse uma grande quantidade de bandas de reggae, se o reggae aqui fosse cultura, se o reggae aqui estivesse presente nas baladas e nas praias. Porque pra mim o reggae muda a velocidade da vida, dos pensamentos, da respiração e do entendimento das coisas. O mundo gira um pouco mais lentamente e as vibrações são tranqüilamente absorvidas, sem quase nenhum esforço, apenas naturalmente.

Sento. Preciso beber antes de tomar qualquer decisão precipitada. Olho de novo para ruas. Eu não tenho palavras para descrevê-las. Só posso dizer que me inspiram de um jeito que gostaria de levá-las para São Paulo. Como vou viver sem elas? Prefiro não pensar. Prefiro continuar tentando descrevê-las pouco a pouco até o resto de tempo que me sobra, que me desespera e que me alegra quase na mesma intensidade. Você fala, mas sabe que não é entendido 100 por cento. Só se for na nossa língua, nas minhas palavras que já não significam a mesma coisa aqui. É necessário mais um gole. Mais um respiro e um suspiro.
Brindemos... Porque necessitamos, como diz você mesmo, estarmos embriagados. E eu me embriago de Raval.
"É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher."

Charles Baudelaire

sábado, 13 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

El trabajo

-Hola!! Queréis invitaciones para a sala Bikini? Hasta las 3 no pagas para entrar.
Dai, eu torço para o maldito ou a maldita entrar com meu flyer na Sala Bikini. Cada pessoa que passa, eu vejo 2 euros. Cada pessoa que passa, eu tento descobri de onde ela é. Relações públicas em plena rua. Me jogo. Italianos, franceses, espanhois, americanos, ingleses, suecos. A gente tenta falar qualquer língua. Mania de brasileiro. Depois de duas horas pelas ruas vendo o sol ou a lua, vou encontrar meu chefe na balada, sempre acompanhada de uma dose de vodka com red bull ou com uma taça de cava. Difícil.
Me despedi esses dias de Liz. Ficamos juntas mais ou menos 5 meses. Viajamos pela Itália, Índia e Indonésia. Inesquecível. Bons conselhos e bons abraços. Agora estou em Barcelona em 1320 acompanhado por Bernat, prestes a me contar como a catedral Santa Maria del Mar foi construída.
tic-tac. tic-tac. o tempo vai passando. tem dias que corro contra ele. tem dias que sento no banquinho e vejo ele passar. quase 4 meses. ontem era um dia especial para os catalães. 11 de setembro. aniversário da Catalunya. feriado. tudo fechado. preciso de alguma coisa? tu rodou. Um calor de verão. O vento balançava todas as milhares bandeiras da Catalunya que estavam nas janelas. Vermelho e amarelo. Sim, a bandeira tem as cores da Espanha. Um orgulho ser catalão, de morar na Catalunya, de ser independente. Quando você mora, você entende um pouco mais. Ninguém mandou reprimir. Ficou mais forte. Responsável? Franco. Impediu que eles falassem catalão nas ruas, tentou misturar o povo para ver se acabava com eles, duou terras da Catalunya para a França. Resultado? Forza! Manifestações rolaram nas ruas, bandeiras da espanha queimadas e gritos de indepêndencia.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Entre Califórnia e Barcelona: não leve a vida tão a sério

- Manja aqueles balões de gás?
- Sei!
- Então, somos nós!
- Se soltar da mão voamos!!!
- É, aconselho prender na árvore.

Croácia, Eslovênia e Brasil

- E ai? Como foi a viagem para Croácia e Eslovênia?
- Um pouco rara. A Croácia é linda, mas tem um povo estranho. Eles te olham, você pergunta alguma coisa e eles não respondem, só olham.
- Nossa que estranho!
- É, mas não tenho o dizer do povo da Eslovênia. São super gentis. Estávamos indo para um lugar e perguntamos para um senhor de família que tava almoçando com os filhos onde ficava o pico. Ele nos colocou dentro do seu carro e andamos uns 20 minutos de carro, nos deixou e foi embora. Ele parou de comer para nos ajudar, tem noção?
- Nossa, super gentil.
- Os brasileiros são assim também, não?
- É, lembra!
- Outro dia na academia um brasileiro veio falar comigo e pegou no meu braço. Acho que ele era gay.
- Nós brasileiros somos assim. Falamos tocando nas pessoas. Somos carinhosos, somos próximos, somos de contatos.
- Humm ...
- Acho que é por isso que todos dizem por lá que os europeus são frios!
- Frios?
- É, se você me visse com meus melhores amigos, você juraria que eu seria namorada de todos eles!
- Acho que preciso conhecer o Brasil.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Injeta cultura na veia...

Sem procurar na net ou em algum livro de história da arte, você saberia me dizer de que movimento é esse quadro?


Se por um acaso você respondeu Dadaísmo, bingo! Eu achei que eu soubesse muito sobre ele. O Dadaísmo sempre foi um dos movimentos da modernidade que mais me chamava atenção, apesar de ser viciada pelo surrealismo, cubismo, impressionismo e expressionismo.

Todo primeiro domingo do mês os Museus da cidade são de graça. Taí uma idéia para São Paulo. O primeiro museu que fomos foi o MNCA – Museu Nacional D’Art de Catalunya. Se tenho palavras para descrever esse museu? Sinto muito, eu não tenho. Vocês terão que visitá-lo. Um lugar cheio de história da arte da Catalunya acompanhado com um belo design. Obras do Romantismo, Gótico, Renascimento, Barroco e da Arte Moderna. Fora o espaço para a exposição do Dadaísmo. Eis o choque, eis o spot. Nas minhas aulas de história da arte eu só aprendi a parte dos objetos do dadaísmo. As influências do movimento, das máquinas, da performace, do vidro, da luz, da transparência e do erotismo aprendi mesmo na exposição. Mas admito: nada melhor para mim do que a época dos objetos readymade. Quase abracei a Fuente – mijátorio, a Monalisa de bigodinho e a roda da bicicleta. E óbvio que além de observar as “obras de arte”, reparei muito nas pessoas. E conclui que elas não sabiam o que significava o Dadaísmo. Ora bolas, ali nenhuma obra é bonita, não é nada mais que um choque para a sociedade da época, e eu diria que para a sociedade de agora também.


Quando estou dentro de um museu é como se eu tivesse em casa. Sim. Não sei se isso deve-se a minha mãe que me levava nos museus desde pequena ou da época que vivia no MAM e na OCA com a . E no meio daquelas obras do século XVI eu tinha certeza que era isso que precisava na minha vida, de novo percebi que preciso trabalhar com museus. Diria minha irmã: Ai que retro!! Quem vive do passado é museu. É, mas acho que só esse retrô me encanta.

Eu e a Keke saímos de lá e fomos direto para o Museu do Picasso. Já tinha escutado que lá era um lugar que não valeria muito a pena, porque não tinham as principais obras dele. Perdi as contas de quantas pessoas me falaram isso. E perdi as contas de quantas vezes agradeci por estar lá dentro. Diversas obras que não estavam na exposição da OCA e nenhum museu jamais me explicou tão bem a vida de Picasso como lá. Ano por ano. Você consegue entender a influência de Paris e de Madrid em suas obras. Mas parece que você não entende a influência das obras quando ele está em Barcelona, parece apenas que você vivência seus quadros. Todo mundo enlouquece um pouco depois que vive um tempo em Barcelona. O museu é uma referência de mais de mil obras para o conhecimento dos anos de formação de Pablo Picasso. Fora as 58 obras que integram a série de Las Meninas – Velázquez que são d-e-m-a-i-s. Se pudesse colocar um quadro de Picasso na minha casa, o escolhido seria esse:

domingo, 7 de setembro de 2008

A última conversa sobre Tropa de Elite.

O filme é do caralho. Falta só mostrar que existem também os traficantes mega ricos que estão bem longe das favelas. Eu lembro de quanto foi falado antes de sair nos cinemas e depois que saiu. Já tava no limite, ou já tinha passado, não lembro. E aqui, eu diria a polêmica que causou aqui, já me irritou o suficiente. Agora eu sou curta e pouco radical.

Eu tinha acabado de beber minha breja no festival, estava observando, flipando e curtindo um som que não faria falta se eu não estivesse curtindo e nisso se apresenta um casal colombiano.

- ahhhhh você é do Brasil? – pergunta o namorado.
- Sim - com um sorriso que daria para mostrar meus cizos como diria o Gui. Adoro falar que sou do Brasil.
- Nossa! Vimos Tropa de Elite!!! Muito bom!!!!
- É excelente mesmo e é tudo verdade também. – já querendo eliminar qualquer pergunta.
- Que verdade? – pergunta ele.
- O que passa no filme é tudo verdade, existe.
- A polícia mata assim mesmo quando sobe a favela? – ele novamente.
- Mata! - afirmo
- E qual é a solução?
- não tem solução! digo.
- como?
- O Brasil não tem solução! Grito.
- Você não pode dizer isto! O Brasil está crescendo economicamente, um monte de país está investindo nele. – fala a namorada do sujeito com um tom um pouco intolerante.
- De onde você é mesmo? – pergunto ironicamente
- Da Colômbia! – responde ela
- Ah! A economia está crescendo mesmo, mas isso não acaba com o tráfico de drogas.– comento eu
- A solução é acabar com o tráfico. Há solução! – fala ela.
- Para acabar com o tráfico de drogas, precisamos primeiro dar boa educação, dar saúde e comida para o povo. Depois disso é que podemos liberar as drogas. – explico eu.
- E com as ajudas sociais nas favelas? – pergunta o namorado
- Você viu o filme? – pergunto
- Vi!
- Então? Não viu o que acontece quando a classe social média/alta tenta ajudar?
- Vi!
- Então, não é tão fácil assim. Não adianta um cara que não tem noção das coisas e de como funciona uma favela, querer colocar seu ponto de vista para depois dormir bem em sua cama. Há bem mais do que isso. – explico novamente
- Mas e as ajudas sociais do estado?
- hahaahahahahahhaahahahaha – tenho um ataque de risos bem gostoso.
- Você sabe como funciona a política do Brasil? O cara sobe no poder e ajuda ele. Só ele. Quem sabe os amigos, os familiares, mas antes de tudo é ele. O povo é esquecido. – explico mais uma vez.
- Mas não pode ser assim. Isso tem que mudar! As pessoas tem que fazer algo pela favela. – fala ele indignado
- Claro, tem que mudar. Sabe que o que você faz? Monta um plano de uma ajuda social e depois entra na favela e aplica!!!! – aconselho com tapinhas nas costas.

O que me deixa irritada? É que eu não fico dando palpite para os espanhóis de como acabar com a crise econômica do seu pais, nem falando para os italianos que eles tem o Berlusconi no poder e nem sugerindo como a Colômbia podia ser melhor.

sábado, 6 de setembro de 2008

Verão, Costa Brava e Carpe Diem

O verão está com seus dias contados. Já não escurece mais às 21h30, as folhas das árvores já estão um pouco amarelas e o sol já não está mais tão quente. Setembro começou e parace que Barcelona está com mais vida, as lojas, as farmácias, as bancas. as tabacarias e alguns restaurantes abriram as portas novamente. Tudo porque quando começa agosto, as pessoas colam um recadinho na porta do estabelecimento dizendo que estão de férias durante o mês inteiro. Ver para crer.

Os últimos dias de agosto fui novamente para a Costa Brava. Mais dois dias velejando sobre o mar mediterrâneo. E a noite regada a Absinthe... primeiro pica a boca, depois ele parece refrescante, desce forte e por fim te dá um calor absurdo.

Acho que dessa vez aprendi. Custou. Aqui a vida se baseia em Carpe Diem. Deixou para amanhã? Perdeu, foi, acabou, passou, já era. O negócio é aqui, agora e hoje.




terça-feira, 2 de setembro de 2008

O poço, o jardim e o tempo

Acendeu? A vela tá acesa, isso quer dizer: start. Vocês iam gostar. Garanto. O pico é assim: aberto, na frente e ao lado de um grandioso e moderno poço de cultura. Grita às vezes, e às vezes soa paz. É. É interessante. Na levada do som que soa. Se é que me entende. Ali está rodeado de pessoas fazendo aquilo que bem querem. É seu, é aberto, são de todos acompanhados obviamente, pelo tal grandioso e moderno poço de cultura. As portas estavam abertas, por isso acho eu, que existia a mistura. Do meu lado um cara de Marrocos, o outro da Nova Zelândia, aquele ali de Londres, essas três da Suecia, aqueles dois espanhóis, ela também espanhola, uns brasileiros aqui e eu. Fora claro, aqueles que passam com as cervezas o bier que são os paquistaneses, os indianos e também os marroquinos.

E depois querem que eu fale? Eu só posso observar, observar, observar. Daí eu penso: vcs são todos meus personagens... Depois da interrogação, eu respondo claramente para um bom entendedor ou não: eu só sou jornalista, só olho, observo e faço perguntas... Para depois só escrever. Já penso que é loucura. Help me, pensei rapidamente e óbvio que esse pensamento gerou em diversos outros. Exatamente quando ocorre quando você vê uma pomba, inconscientemente você de lembra de mil coisas relacionadas à pomba. A que me vem agora na cabeça, por exemplo, é que eu odeio pombas. Por mim eu sumia com todas elas. Enfim. Isso era alguma aula perdida por ai de filosofia, que por falta de memória não sei dizer o filosofo que falava isso. Se alguém lembrar, please me recorde. Porque já esqueci até o que eu queria escrever.


Help me. Isso já me lembra essa, essa, e aquelas amigas minhas. Uma em cada canto hoje. Uma mensagem no celular bastaria para um entendimento completo sem muito esforço. Mas se eu dizer help me aqui, ninguém vai entender o quero dizer. Bate saudade... da nossa língua, do jeito de ser. Mas é demais viver o que ninguém vai entender, ou vai, vai saber, é tanta mescla. As italianas e os italianos levam o troféu sem dúvida do povo europeu mais gente fina e mais engraçado. E um instante é fácil de dizer se eles são do norte ou do sul. Os do norte são bem italianos, mas são mais quietos, na deles. Os do Sul são espalhafatosos, sempre falando alto e fazendo gestos com as mãos que dá p/ ver de longe. O MACBA vicia. Sim, o MACBA e não o MAPA. Por isso, não fazia sentido: Museu de Arte Contemporâneo de Barcelona. Dã. Mas ainda não dá para entender direito o que um catalão ou uma catalã falam rapidamente com esse leve sotaque. Enfim, ele vicia. Não sei dizer ainda se é pela presença do poço ou se é o que é. Eu sempre gostei de ficar perto de museus. E isso também me lembra amigas e amigos. Ai um deles me confirma:


- Estamos indo ali na casa do hdjwb dkcnd, vamos ae?
- O que tem lá? = pergunta a sueca
- Um bando de intelectuais. – responde o marroquino
Ela torce a cara. Ele continua:
- Intelectuais porque são todos personagens, vc precisa ver!
Ela distorce a cara e traga seu cigarro.
- Todos nós somos personagens. Ainda não percebeu?
- Não – responde ela soltando a fumaça.


Obrigada, marroquino. É óbvio que somos personagens e vocês são meus só por alguns instantes. Instantes virtuais.
Recebi um email com a seguinte frase:

“Abrimos todas as portas e as janelas do quarto
nosso lugar é infinito, é jardim em expansão..”


Isso quer dizer que O Quarto das Cinzas mudou de nome e agora chama O Jardim das Horas. E isso me levou a escutar a nova música do grupo e escrever no blog. E depois de tudo recebi outro email de um amigão falando:


Um espaço é uma porção de tempo capturado"


Tá, confesso: eu estou no jardim em expansão, mesmo sabendo que é uma porção de um tempo capturado.


Um mês para o inferno astral. Mas de inferno não terá nada. Só será astral e o universo só agradecerá, é mais menos assim que você se sente quando teu brother, irmão mais que iddiota e blábláblá vem te visitar em menos de 15 dias. Que venha a quarta visita, porque somos todos, como diz o Txiste, um bando de subnormales. Pode apagar... eu só estou de passagem.
"No final das contas, talvez seja mais sábio se render à milagrosa abrangência da generosidade humana e simplesmente continuar dizendo obrigada, para sempre e com sinceridade, enquanto tivermos voz."
Elizabeth Gilbert