Temos aqui de fato três personagens num cenário
amarelo. Mas, se o
amarelo cansar sua vista,
não desista. Concentre-se apenas na cartola, no coelho e em mim. Estou sentada no chão com as pernas esticadas; ao meu lado está a cartola de cabeça para baixo e o coelho está sentado em sua borda. Suas patas balançam insuportavelmente como se fosse um pêndulo. O coelho está irritado. Ele me olha, tira um kitkat do bolso, morde e pula dentro da cartola. Ele não é um personagem principal. Na verdade, ele só aparece para me dizer coisas que nem ele mesmo gostaria de contar. Já a cartola tem um papel fundamental, ela é a minha nova paixão.
Há tempos eu repetia uma frase - talvez ela só faça sentido se você estiver no mesmo degrau - a
vida é linda, simples e curta. Mas de uns tempos pra cá, percebi que a minha vida é uma cartola, cheia de surpresas. Parece até uma mágica. Dizem por ai, que são as sementes que plantei no ano passado, ou mesmo, na minha vida inteira. É a colheita. Uma vida que só te surpreende a cada dia que passa. A noite fica mais linda, a lua brilha mais, o calor finalmente chegou e o vento espalha pela cidade um verão tardio. Fora isso, você encontra pessoas da mesma vibe em cenários distantes, torna-se amigos de pessoas nunca vistas, orgulha-se mais ainda de seus verdadeiros amigos e quando você acha que não existem mais surpresas, recebe a notícia que ela ta chegando para passar um bom tempo. E mesmo assim, você já olha para a cartola com um sorriso maior que seu próprio corpo e ela te responde com um momento que aquela lá, tão especial, conseguiu te mostrar
o seu novo amor, seu filho de cinco meses. Nesses ventos, você tem a plena certeza de uma coisa: basta apenas você querer abrir seus próprios olhos e ver que há sim um
“desencontro, veja por esse ponto, há tantas pessoas especiais”. E ai chove, mas chove colorido, porque a vida meu bem, não é em preto e branco.
Seja bem vindo ao país do sonho! E desfrute sempre o vento que vem do deserto, bem ali, onde vivem
las pistoleras; e entenda que os cactos, ah os cactos! Eles te ensinam tantas coisas. Veja só, floresce apenas uma vez por ano; tenha, por favor,
a santa paciência.
Ultimamente, estou num jogo com a cartola. A gente disputa para ver quem traz mais surpresa. E um ultimo exemplo quando falamos do vento: Outra noite, juntaram cinco pessoas dispostas a dominar a pista. Uma delas antes mesmo de entrar, desistiu. Sem xingamentos, ele partiu e nunca mais voltou. No ar as frases:
Essa noite nunca mais irá se repetir! / Ele foi embora e isso era único!! Não precisou de xingamentos. O vento virou personagem principal, levou as frases e a vibe da pista totalmente dominada para os ouvidos daquele homem.
Tim errou. Ele partiu, mas depois de 1 hora, ele estava no meio da pista.
Surpresas acontecem, pelo menos é isso que a cartola apresenta. Mas e o coelho? O coelho fica de boa, curtindo o escuro colorido. Mas é quando ele precisa sair da cartola para dizer o que nem ele mesmo gostaria de ouvir, ele fica assim: sentado na borda da cartola com suas patas balançando insuportávelmente como se fosse um pêndulo. O coelho está totalmente irritado. Mas não desista!
Esqueça do cenário
amarelo.
Esqueça também do
coelho. Fixe seus olhos apenas na
cartola! E acredite que eu só estou ali, narrando essa história, tipo
Maridiz!