sexta-feira, 31 de julho de 2009

Lápis, saudade e o novo

Os lápis acabaram. Todos aqueles que estavam na caneca. Nova mania. Prender o cabelo com lápis. E assim, o lápis ganha vida. Às vezes é esquecido até em outras casas, em outros carros e em outras reuniões. Por isso, que quando você abre a bolsa, tem ali jogado uns dois, três lápis. E obviamente que esse é o motivo para eles terem desaparecidos da caneca. Virou rotina. Sentar, olhar para a caneca e ver que não tem mais um lápis para prender meu cabelo. Daí, toca eu sair pela casa em busca dos lápis perdidos. Porque sempre tem um na cozinha, uns três no quarto, um no banheiro, um na latinha do incenso, um no escritório, outro no carro. Daí, eles voltam todos para a caneca. Mas depois, ganham vida, presos no meu cabelo. E aí, ficam perdidos por algum canto.

Ele me liga quase todo domingo. E mesmo assim, toda vez que eu atendo ao telefone e percebo que é ele, fico surpresa. E ai, ele não para. Fala, fala, fala, fala e eu apenas fecho meus olhos e vejo nós dois descendo a Rambla, depois virando no Passeig de Colom. Ele me convencendo a entrar na lojinha perto da praia, comprando um guaraná e falando que ta matando a saudade do Brasil. Ai, a gente vai contornando a praia e ele vai discursando como aquilo tudo é bonito, como é ter qualidade de vida, como é grato por morar ali e como é feliz por poder aproveitar aquela tarde vendo o mar. Ele desliga falando que precisa trabalhar, que adorou conversar comigo e que com certeza a balada ia ser muito boa.

Da janela do meu quarto, com o telefone desligado na mão, eu vejo o meu caminho de volta até em casa. Com certeza, por alguma razão, eu me convenceria que era melhor voltar a pé do que pegar um metro. Escolheria alguma trilha sonora e subiria pelo Born; me perderia de propósito em algumas ruas só para ver novos restaurantes, novas lojas de chocolate, atravessaria o Gótico; cruzaria a Rambla xingando a bandinha dos peruanos e alguns turistas e cairia rapidamente no Raval. Subiria qualquer rua que me levasse até a Plaza da Universitat, andaria pela praça para ver se encontraria alguém conhecido, passaria ao lado da Universidade e dobraria a esquerda e depois à direita. Olharia para o portão do prédio, lembraria dos cinco andares de escadas e sentaria no banquinho da pracinha. Esperaria o tempo necessário para me convencer que lá na minha casa estaria mais atraente que lá embaixo e subiria.

Depois que a distância virou presente em nossas vidas, a gente continua unidas. Quase todos os dias falamos rapidamente sobre nossas vidas. Ultimamente, ela só me escuta falando que as coisas estão para acontecer e que tudo está indo numa onda. Às vezes ou muitas vezes, ela me ouve reclamando. Dizendo que tá massa, mas que preciso de mais dinheiro, que se acontecer isso, aquilo ali também, vira. E assim vai. E ela continua lá, firme e forte. Agradecendo sempre e vivendo junto de seu amor.

Mas hoje, foi diferente. Talvez só pra mim. Hoje eu tava sentada na sala trocando idea com ela e ai foi mais forte que eu. Dos olhos vieram as lágrimas. Vieram sutilmente, sem mesmo perceber que chorava de saudade. De saudade dela, de Antonio, de Tuany, da city e da movida. Chorava sem perceber, porque minha alma estava ali, sentindo tudo aquilo que já senti e hoje tudo aquilo virou apenas palavras. Palavras e memórias. É estranho pensar e sentir aquilo que eu pensava e sentia quando atravessava a Gran Via indo trabalhar na Rambla. Aquilo era tão lindo, tão solto, tão livre.

Cadê?

Eu tinha sede. E fui matá-la na casa de um amigo. Onde tinham outros amigos. E a agitação de dentro foi desaparecendo. Até que sumiu. Anestesiou. O novo; de novo. A porra do novo; que vem matando tudo que tem dentro de mim. Passa como um trator matando todas as minhas idéias antigas criadas a pouco de um mês. Vem cuspindo na minha cara que tudo já virou rotina, que tudo já dá pra controlar e que ta tudo assim meio preto e branco. Que na verdade, precisamos de mais cores, de mais lápis....

E a caneca está assim: vazia, sem nenhum lápis.

domingo, 26 de julho de 2009

Fora do Ar !!

Se fosse mais simples, não existiria. E se fosse mais complicado, não escreveria. Nem mais, nem menos, a medida certa. Vai uma dose, aí? Depois de tanto tempo, você surge ao meu lado numa banca de jornal. E em segundos, desaparece. Antes mesmo de me entristecer, você aparece novamente ao meu lado sentado na mesa. Dessa vez, você permanece dez minutos e depois some. E assim vai e assim vem. Quando acordo, você me dá bom dia e antes dormir você também me dá boa noite. Quando eu tenho dúvida, você segura a minha mão e quando estou perdida, você aparece para me mostrar se é para esquerda ou para a direita. Estranho ou não, isso não é passado. E muito menos presente. Talvez seja o futuro, talvez não.

Era outono. As folhas das árvores da Gran Via já estavam amareladas. As bikes carregavam pessoas mais arrumadas com lenços coloridos nos pescoços. As entradas do Metrô já tinham mais bitucas e bem na saída da Rocafort ele estava lá, como todas às vezes, apoiado no murinho e o skate no chão. Ele não tinha ideia do presente que ganharia dessa vez. E muito menos, que teria mais motivos ainda para se orgulhar dele. Na troca de camisas de futebol, ele me leva para conhecer mais uma pracinha do seu bairro e se alegra quando me vê voltando a ser criança num gira-gira. Tira a blusa do Barça e coloca a do Corinthians. Será que ela ainda tem meu cheiro? Porque depois de um ano, a sua foi lavada diversas vezes e ainda tem o seu cheiro.

O jazz nunca existiu, mas sempre foi marcado na agenda. Os elogios e as vontades ficaram no ar, fora do corpo. Do meu e do seu. Já faz tempo, você cruzou meu caminho ditando passos. Cantou a fita de quinta-feira passada com a melhor descrição possível ao pronunciar duas sílabas em meus ouvidos: ha-xi. Boca marcada, boca mordida. O mesmo estilo, boné p/ lado, skate no pé e o mesmo som... versão brasileira? Esquece. O jazz nunca vai existir, e os elogios e as vontades continuarão vagando por ai.

Não é questão de diversão, nem de prazer, nem de paixão e nem de amor. Alguns se arriscariam dizendo que é Julho. Foram dois eclipses e a confirmação de Plutão que estamos mergulhados na crise, aquela mesma que há seis meses ele anunciou que estava a caminho quando entrou em Capricórnio. E se você trombar Agosto por ai, avisa que estou atrás dele, por favor.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Doutor, Eu e o Diabo

Sentada ao lado da janela, a mente vai longe. Lembra do prazer da liberdade, do suor escorrendo pelo seu corpo naquele verão. Que saudade do verão, que saudade daquela vida intensa com prazo de validade....

Eu: Acho que era isso, Doutor. Aquele verão que vivi no ano passado foi intenso porque tinha prazo de validade. E a minha vida aqui no inverno não tem prazo de validade!
Psicólogo: Claro que tem, Mariana. Ou você acha que o próximo inverno será igual a esse que você está vivendo?
Eu: Tem razão! Então eu perdi mesmo!
Psicólogo: Perdeu o que?
Eu: Essa coisa ai única que tinha trazido da Europa.
Psicólogo: Está saindo muito de noite?
Eu: Não! Só dando uns roles de leve!
Psicólogo: Está dormindo pouco?
Eu: esse é o problema doutor! Estou dormindo demais!
Psicólogo: E você fica cansada o dia inteiro?
Eu: Não! Fico super elétrica! Mas não consigo produzir, sei lá por que. Mas não consigo me concentrar, ainda mais com o facebook.
Psicólogo: o que tem o facebook?
Eu: descobri esses dias que o diabo tem facebook!
Psicólogo: Ah, o diabo tem facebook???!!?.... E vc é amiga do diabo?
Eu: claro que não, né doutor? Tô out dele!
Psicólogo: E o que tem demais o diabo ter facebook, Mariana?
Eu: Ah, não sei não, viu? Já sou amiga do Santanaz e o Diabo fica ali piscando todo dia querendo ser meu amigo!
Psicólogo: E o diabo e o santanaz não são as mesmas pessoas?
Eu: Claro que não! Eles não tem nada a ver!
Psicólogo: hahaha, sei. Vamos ver. O diabo tem namorada?
Eu: ultimamente desconfio que ele é gay. Outro dia, vi ele saindo com um cara.
Psicólogo: E o Santanaz?
Eu: Ah o Santanaz!!! Esse ai nunca vai namorar!
Psicólogo: Por que vc acha isso?
Eu: Ah Doutor, porque o Santanaz é um filho da puta!
Psicólogo: Literalmente!
Eu: Totallllll Doutor!!!!!. Cada dia ele ta com uma mulher diferente. Também gato do jeito que é.....
Psicólogo: O Santanaz é gato?
Eu: Muuuuuuuuuuuuito! Além de estiloso, charmoso e educado.
Psicólogo: Você já teve um caso com o Santanaz??????
Eu: Por que? Você conhece a mulher dele?
Psicólogo: Mas vc me disse que ele não tem namorada!!!!
Eu: É eu sei, mas desconfio que ele tem sim e por um momento achei que vc a conhecesse.
Psicólogo: Mariana, que mundo vc vive?
Eu: acho que no mesmo que o seu, não?
Psicólogo: acho q sim. Continue falando do Santanaz
Eu: A gente teve um caso sim. Uma puta história linda, mas pulei fora.
Psicólogo: Pulou fora de um cara tão gato, charmoso e educado?
Eu: Claro! Do jeito que tava doutor, eu ia me apaixonar perdidamente por ele.
Psicólogo: Puta que pariu! Tava indo tão bem Mariana. O que foi dessa vez?
Eu: Ele tem um grande defeito doutor.
Psi: Qual?
Eu: Ele é São Paulino!
Psi: E aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii?
Eu: Como e ai doutor? Sou corintianaaaa!
Psi: Mariana o que isso tem a ver? Vai deixar de namorar o Santanaz porque ele é São Paulino?
Eu: Claro! Imagina eu namorando um bambi? Quantas discussões ridículas por causa do futebol? Ah não dá. São Paulino e Palmerense não dá. Se fosse santista até dava para engolir, meu pai é santista e tals. Mas porco e bambi, não!
Psi: E se ele torcesse para o Grêmio?
Eu: Hummmm, sabe que nunca pensei nisso? Acho que passa. Mas ia ser um saco. Imagina ficar horas tentando convencê-lo que o Corinthians é o melhor? Não, não! Preciso de alguém que concorde com isso sempre: o Corinthians é foda e ponto!
Psi: A minha mulher nunca pensou nisso para se casar comigo!
Eu: Não?
Psicólogo: Não!
Eu: Que time vc torce?
Psi: São Paulo, claro!
Eu: e ela?
Psi: o que tem ela?
Eu: que time que ela torce?
Psi: Ela não gosta de futebol
Eu: Ah! Assim é fácil, porra.
Psi: Talvez seja a hora de vc ser menos corintiana, e aceitar o seu destino na vida!
Eu: Ah doutor! Na boa? Acho que nenhum homem vale esse sacrifício.
Psi: Jesus!
Eu: Nem ele!
Psi: Eu não tava falando dele como pessoa e sim como Meu Deus! Mas voltando ao tema principal, você acha que está dormindo muito e produzindo muito pouco?
Eu: isso!
Psi: Já tentou colocar horários na sua rotina?
Eu: Já!
Psi: E ai?
Eu: O sono ganha e preguiça domina.
Psi: Ta sem vontade de fazer alguma coisa?
Eu: Muito pelo contrário, minha mente não para quieta. Fica transbordando trezentas mil coisas. Quero fazer tudo ao mesmo tempo, sabe?
Psi: Sei.
Eu: E ai acabo não fazendo nenhuma direito.
Psi: Vou te passar uns florais e com certeza você vai melhorar.
Eu: Obrigada doutor.
Psicólogo: De nada!
Eu: Doutor?
Psicólogo: Sim.
Eu: Tem algum floral ou incenso que faça o Diabo parar de querer ser meu amigo?
Psicólogo: Marianaaa!!! Você precisa urgentemente de férias!
Eu: Também acho Doutor! Mas acho que preciso daquelas férias de 8 meses, sabe?
Psicólogo: Sei. E que tal umas férias de 8 meses com o Santanaz?

terça-feira, 21 de julho de 2009

Dose homeopática e algumas margaridas!

É aquela velha história. E acho que por ser tão velha, torna a história ainda melhor. Nem mesmo o frio espantou os sorrisos. E diante de tantos problemas, chateações e crises, quem foi que se lembrou e esqueceu de sorrir? Ninguém. Aposto todas as minhas fichas que ontem foi ao contrário: todo mundo esqueceu e lembrou apenas de sorrir enquanto estava ali. Dizer que foi uma dose certa na veia. E sem jeito e sem vergonha admito que me viciei. Me viciei nos olhares, nos copos de vinho, nos abraços esmagados, nos beijos carinhosos, nas idas a quadra, nas velhas lembranças, nos velhos amigos e nos recém-chegados de terras distantes. Aparentemente está como sempre foi. Mas garanto que está melhor. Não sei se alguém percebeu, mas a estrela tava ali em cima, brilhando. Acho que era saudade. E você ainda quer saber onde eu quero chegar? Essa é fácil! Quero chegar no meu jardim, só para mostrar que de ontem pra hoje nasceram algumas margaridas!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A queda do muro, o jardim e uma nova história

Um mês. O tempo exato para a queda de mais um muro. No vácuo existe agora um jardim. A flor se cansou, foi assim que tudo começou. Cansou de ser meiga demais, cansou de ser feita de bem me quer e mal me quer, cansou de ter espinhos que nada serviam. De tanto cansaço virou rocha. Tola. Esqueceu que rocha pode rachar. E rachou. Até chorou, chorou com culpa, chorou com dor, chorou depois de 5 meses.

Teve que ir de novo até o fim para ver que o final estava agora bem perto, do jeito que um dia imaginou. Do jeito que não queria chegar, mas chegou. É lei. Pensou, realizou. Dessa vez, a culpa era só sua. Procurou um médico. Recebeu a notícia de um tratamento urgente. A base não era remédio, e antes que alguém se surpreenda, a doença tinha cura.
Convencido, entregou-se de olhos fechados, e conseguiu por um instante dormir. Acordou depois de um mês. O tempo exato para a queda de mais um muro. Já não sorri como sorria antes. É preciso ainda adubar a terra, e depois regar diriamente. Mas sabe e prevê que os sorrisos antigos já devem voltar.
O jardim. Outra vez uma dedicação ao jardim. Podem apostar! Ele está escrevendo uma nova história.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Agradável...

- Agradável! Diria ele. E diria mais. Diria que o céu não está tão diferente daquele de oito meses atrás. Está na verdade, igual! Que o inverno chegou suavemente em um dos últimos ventos de outono. E que de tarde, num calor gostoso, todos se encontram no parque. Sempre depois da siesta. E como não há nuvens, a paisagem então, se torna cartão postal. Logo ali, exatamente ali, depois das 15h30 da tarde.

- Isso não é agradável? Perguntaria ele. – Nãooo! Responderia ele, antes de qualquer outra resposta possível da platéia. – Agradável é você sair do parque no fim da tarde, e ver a noite nascer. E não existe lugar melhor para admirar a noite do que a rua entre a Matias Aires e a Antonio Carlos. E sabe-se lá porque, essa rua, mais conhecida como a vila azul, não aparece nos guias da cidade de São Paulo e nem no Google Maps. Estranho ou não, lá você admira a noite nascer. Senta no banquinho da pracinha e acompanha a vida daquela pequena vila acontecer. O primeiro sempre a acender as luzes é o homem do sebo de livros, depois logo em seguida é dono do bar. Depois o da pizzaria, a casa das meninas Maria e Pri, a lojinha de culinária. Os outros estabelecimentos e as outras casas acendem as luzes depois de mais ou menos uma hora. Os últimos a acenderem são sempre também os mesmos: a casa do fotógrafo e a Kombi de hot-dog do Seu Pedro. Quando isso acontece e o céu está limpo, a lua fica exatamente entre as duas casas, a da lavanderia e a da sorveteria. Coincidência ou não, as duas casas são brancas com o mesmo telhado e as luzes estão apagadas. Porque antes de anoitecer, o expediente já terminou e ninguém precisa acender a luz. Talvez a lua saiba que ali ela fica mais bonita. E por ser tão vaidosa, atrai um publico na medida certa para admirá-la. Não só admiram, retribuem ao bom som ao vivo, tranqüilo. As pessoas interagem, os estabelecimentos funcionam e a vizinhança adere. A vila toma vida e é ai, que você percebe que a noite só começou...
- Mas, agradável mesmo, é terminar a noite na casinha roxa e acordar só quando o sol bate na janela e me diz bom dia.